A política
portuguesa não existe.
A maioria absoluta do Partido Socialista
existe para tudo mas não para pensar nos portugueses: o gravíssimo problema com
a situação dos professores, os percalços diversos com o Serviço Nacional de
Saúde, o preço da habitação, os preços nos supermercados, o cartel dos bancos
com os Certificados de Aforro, a TAP e o não saber-se quem acciona as secretas
do país.
Um perfeito desastre!
Para completar o ramalhete atrás,
ligeiramente, mencionado, leia-se este comentário do jornalista Pedro Tadeu
no Diário de Notícias:
«Das audições de ontem no Parlamento sobre a TAP retive algumas
coisas que me impressionaram bastante mais do que a de saber quem mandou quem
avisar o SIRP/SIS de que Frederico Pinheiro, na noite de 26 de abril, levara consigo
o computador com que trabalhara no Ministério das Infraestruturas.
1 - Impressionou-me
a decisão de entregar 55 milhões de euros a David Neeleman para ele aceitar
deixar de ser o maior acionista privado da companhia aérea. Quer Pedro Nuno
Santos, quer João Leão, os ministros que trataram do caso na altura, alegam que
era isso ou ir para litígio em tribunal, o que poderia inviabilizar a
autorização da Comissão Europeia para o Estado português meter dinheiro para
salvar a TAP.
Pagou-se, portanto, 55 milhões para Neeleman
não chatear mais. Lembro que a venda da TAP, que trouxe Neeleman para a
empresa, pelo governo Passo Coelho, foi apreçada em, apenas, 10 milhões de
euros. Fantástico!
2 - Impressionou-me
ninguém responsável ter percebido, entre 2015 e 2022 (apesar dos rumores sobre
o caso que o ex-ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, disse ter
escutado), que Neeleman fez um negócio de troca de compra de aviões, a que se
convencionou chamar "fundos Airbus", que na prática pagou a compra da
TAP sem que Neeleman gastasse dinheiro do seu bolso. Como é possível ninguém
saber?
3 - Impressiona-me
que uma parte desses responsáveis, que durante anos não deram pela existência
dos fundos Airbus, digam agora que, mesmo não conhecendo essa negociação (cito
o ex-ministro das Finanças, João Leão), concluam que ela "lesa os
interesses da TAP". Agora?!
4 - Impressiona-me
que o governo de Passos Coelho, aquando da privatização apressada que fez, já
com o governo demissionário, tenha assinado aquilo que o Tribunal de Contas
designou como "cartas de conforto" ao comprador da TAP, que obrigava
o Estado a garantir o pagamento de dívidas passadas e futuras da empresa, caso
os privados não o conseguissem. Isto não é, simplesmente, ilegal? Se é legal,
não devia passar a ser ilegal para o futuro?
5 - Impressiona-me
que o ex-ministro Pedro Nuno Santos, que ontem defendeu convincentemente os
méritos políticos, económicos e financeiros da gestão pública, desde que
entregue a gente competente e não a clientelas político-financeiras, seja o
mesmo ex-ministro Pedro Nuno Santos que também ontem defendeu, no mesmo local,
que a única solução para a TAP é a sua privatização. Que contradição!
6 - Impressiona-me que os deputados do PSD
se calem muito caladinhos sobre as óbvias asneiras feitas pelo governo do seu
Pedro Passos Coelho na privatização da TAP, mas rujam como leões para atacar as
asneiras do governo do PS. Não se enxergam?
7 - Impressionou-me
que a Iniciativa Liberal critique o governo por ter metido 3,2 mil milhões de
euros na TAP e que a tenha nacionalizado mas, ao mesmo tempo, defenda que o
governo deveria ter emprestado os mesmos 3,2 mil milhões à TAP, mas deixando
David Neeleman, o homem que comprou a empresa sem gastar um tostão, a mandar na
empresa. Isto é que é defender o contribuinte?
8 -
Impressionou-me que todo o processo de reestruturação da TAP estivesse
dependente da análise e aprovação da Comissão Europeia e que ela pudesse
unilateralmente impor cortes na empresa, na atividade e no pessoal, com base em
interesses e critérios que o governo e o Parlamento português não podem
objetar. "Só se saíssemos da União Europeia" disse Pedro Nuno Santos.
Somos, portanto, uma colónia de Bruxelas, com autonomia limitada, que obedece a
um poder executivo que nem sequer é eleito. Isto não devia mudar?
9 - Impressionou-me
a vacuidade propagandística do Chega. Certo.
10 - Impressiona-me
ninguém saber qual é o funcionamento protocolado entre o governo e o SIRP/SIS,
nem qual o enquadramento legal que levou o SIS a ir buscar o computador de
Frederico Pinheiro. Que paciência para esta novela!»