sábado, 3 de abril de 2010

O CANTIGUEIRO

ORFEU ATEP 6451

Poemas e músicas de Samuel
Direcção musical José Calvário
Produção musical José Niza
Fotografia Álvaro João
Editado em 1972

O Cantigueiro – A Recompensa – Os Castelos Também se Assaltam – Cantar de Quem Anda Por Lá

No país cinzento da guerra colonial, da PIDE, da Censura, só tinha licença de cantigueiro quem fosse o bobo do rei.
Muitos recusaram esse papel e ajudaram-nos a acreditar que a Liberdade era possível, que não era apenas uma ideia cravada no calendário, não declarado, dos nossos sonhos.
Tudo era proibido, menos sonhar.
Os cantigueiros ajudaram-nos a palmilhar caminhos, muitos desses caminhos eram picadas.
E também se podia morrer pelo sonho que sonhávamos.

O Cantigueiro


Penares de outrora são feitos versos
sangue das nossas mãos
A noite corre por todo o corpo
e os amigos são mais que irmãos

Cada janela trás o vento
vento que gela em vão Mais frio trás
o quadrado negro
as grades da frustração
Morremos pelo sonho que sonhamos

Mau pregador
justo auditório
Pior a pregação
Verdades ditas
fora de tempo
e o pregador vai para a prisão.


Não há fiança
pró cantigueiro
e ele nem dinheiro tem
Se viu demais
que arranque os olhos
e a vida correrá bem


Sonhou curara humanidade
dos mil podres que tem
Mas só dum toque
nas negras chagas
morreu de peste também


Se tal soubesse não cantaria
tudo o que já cantei
Só tem licença de cantigueiro
quem for o bobo do rei”

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