terça-feira, 20 de abril de 2010

VENHAM MAIS CINCO



ORFEU STAT 017

Gravado em Paris, no estúdio “Aquarium” de 10 a 20 de Outubro de 1973 com arranjos e direcção musical de José Mário Branco.
Acompanhamentos de viola concebidos por Yório Gonçalves.
Capa e desenho gráfico: José Santa-Bárbara.
Produção José Niza.

Lado 1
Rio Largo de Profundis – Era um Redondo Vocábulo – Nefretite Não Tinha Papeira – Adeus Ó Serra da Lapa
Venham Mais Cinco


Lado 2
A Formiga no Carreiro – Que Amor Não Me Engana – Paz Poetas e Pombas – Se Voaras Mais Ao Perto – Gastão Era Perfeito

Poemas e músicas de José Afonso.

Coloca-se a rodar a primeira faixa do disco e deparamos de imediato com um desconcertante som de concertina, o Zeca a monologar qualquer coisa como uma garrafa vazia do Manuel Maria e uma passagem imediata para “Rio Largo De Profundis, uma autêntica música-dança de cowboys.

Uma abertura que é um verdadeiro achado que resulta dos brilhantes, dos soberbos arranjos de José Mário Branco

Um enorme disco da música portuguesa, cheio de novos caminhos rítmicos, cheiros de Brasil e África, considerado, em 1973, o melhor disco de música portuguesa.

Venham Mais Cinco é o último dos discos de José Afonso gravado e publicado em tempos de ditadura e a maior parte das canções são concebidas durante a passagem prisional de José Afonso pelo Forte de Caxias.

Mas não há bela sem senão.

A prensagem do disco revelou-se um autêntico desastre: instrumentos demasiado altos a sobreporem-se à voz de José Afonso, que em algumas canções se ouve muito lá atrás.

O desastre foi de tal ordem que, publicamente, José Afonso, bem como José Mário Branco e o engenheiro de som Gilles Sallé, exigiram a retirada do disco do mercado. Como a editora Arnaldo Trindade não deu qualquer resposta, acabaram por se “desligar” do disco.

A canção que dá nome ao álbum é um dos últimos hinos de José Afonso mas “Era um Redondo Vocábulo”, é uma canção lindíssima.

“Era Um Redondo Vocábulo”

“Era um redondo vocábulo

Uma soma agreste
Revelavam-se ondas
Em maninhos dedos
Polpas seus cabelos
Resíduos de lar,
Pelos degraus de Laura
A tinta caía
No móvel vazio,
Congregando farpas
Chamando o telefone
Matando baratas
A fúria crescia
Clamando vingança,
Nos degraus de Laura
No quarto das danças
Na rua os meninos
Brincando e Laura
Na sala de esperaI
Inda o ar educa.”



2 comentários:

filhote disse...

Um belo disco!

Quanto ao citado "erro de prensagem", eu estou mais inclinado a dizer que o problema residiu nas misturas, mesmo antes da masterização.

"Instrumentos demasiado altos a sobreporem-se à voz de José Afonso"?... trata-se, sem dúvida, de uma mistura sonora inadequada, e não de má prensagem.

Porém, cada ouvido a sua sentença, sempre gostei do "Venham mais Cinco" como é!

Sammy, o paquete disse...

Sim um belo disco, Filhote.
Nunca ouvi o disco a não ser em vinil. A coisa foi muito badalada na altura, mas é em Janeiro de 1974que o Zeca, o Zé Mário e o Gilles Sallé se "desligam do disco" por o Arnaldo Trinade não ter retirado os discos do mercado.
Era esta a notícia do "Diário de Lisboa" de 4 de Janeiro de 1974:
"Depois de Adriano Correia de Oliveira ter fundado uma cooperativa (que é já responsável pelo seu novo disco) e ter deixado, portanto, a etiqueta para a qual gravava, esta vê-se agora a braços com outro problema. José Afonso e José Mário Branco anunciaram ter-se desligado do disco intitulado "Venham Mais Cinco", alegando a péssima qualidade técnica do mesmo. Tendo efectuado o registo magnético, em Paris, no passado mês de Outubro, Zeca e Zé Mário, portadores de váriuos exemplares do álbum regressaram em Novembro à cidade-luz, onde o engenheiro de som Gilles Sallé constatou ter o trabalho de prensagem estragado completamente a gravação anteriormente efectuada."
O Nuno Gomes dos Santos, na crítica que fez para o "Diário de Lisboa" colocou um P.S.:
"A prensagem é de péssima qualidade, o que não se justifica em disco nenhum e muito menos neste, com um trabalho musical e poético de invulgar qualidade. E, aliás, essa qualidade que faz com que o LP continue, apesar de tudo, a valer mesmo a pena ouvir. Uma prensagem mal feita pode deitar abaixo todo um trabalho que demora meses a fazer. Esta não o deitou abaixo, não o derrotou, mas desfigurou-o o suficiente para que assinale bem o erro."
Sou um pouco duro de ouvido, não domino técnicas de gravação ou prensagem, mas o disco sempre o ouvi muito bem.
Um abraço