“Erguer a voz e cantar” é uma canção que vem ao encontro daquilo que um dia Luis Pinheiro de Almeida, vulgo Mr. Ié-Ié, um dia manifestou ao preferir a canção de intervenção pré-25 de Abril do que a que se lhe seguiu.
“Erguer a Voz e Cantar” é uma canção-chave dos “filhos da madrugada”.
Não havia encontro, reunião, passeio, o que quer que se fizesse naqueles tempos, que não aparecesse o “canta amigo canta, vem cantar a nossa canção, tu sozinho não és nada, juntos temos o mundo na mão”, fazendo vincar a ideia de que nenhum homem é uma ilha isolada, que ninguém ganha a Volta à França sozinho ou, como se pode ler no bonito poema, “Tecendo a Manhã” , de João Cabral de Melo Neto: “um galo sozinho não tece uma manhã, ele precisará sempre de outros galos”.
O jornalista Mário Contumélias, reportando para a revista “Cinéfilo” de 6 de Abril de 1974 o I Encontro da Canção Portuguesa, que se realizara a 30 de Março, escrevia:
“Fosse lá porque fosse, naquela noite, no Coliseu, senti-me . E isso não nos acontece todos os dias. Isso é importante!”.“Estavam lá, não sei se já vos disse, 5 mil pessoas. Eram 10 horas, passavam 30 minutos da hora prevista para o começo do espectáculo.
Cantava-se em coro “Canta, Canta Amigo Canta… Era assim que os 5 mil pediam que o espectáculo, também ele começasse".
Daqui por alguns anos, há-de chegar à memória do Afonso, o recordar as vezes que a avó Aida lhe cantou “Erguer a Voz e Cantar” para que adormecesse.
António Macedo morreu em 1999. Tinha 53 anos.
"Erguer a Voz e Cantar"
"Canta canta amigo canta
vem cantar a nossa canção
tu sozinho não és nada
juntos temos o mundo na mão
Erguer a voz e cantar
é força de quem é novo
viver sempre a esperar
fraqueza de quem é povo
Viver em casa de tábuas
à espera dum novo dia
enquanto a terra engole
a tua antiga alegria
O teu corpo é um barco
que não tem leme nem velas
a tua vida é uma casa
sem portas e sem janelas
Não vás ao sabor do vento
aprende a canção da esperança
vem semear tempestades
se queres colher a bonança"
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