quinta-feira, 8 de abril de 2010

PRÉ - HISTÓRIAS

GUILDA DA MÚSICA DP 024
Capa de José Soares

Lado 1
Barnabé - A Noite Passada - Aprendi a Amar Eh! meu irmão - Porto, Porto

Lado 2
O'Neill - Pode Alguém Ser Quem Não É - Até Domingo Que Vem - Já a vista me fraqueja - O Homem dos 7 Instrumentos

Todas as letras e músicas de Sérgio Godinho, excepto "O'Neill" em que os poemas são de Alexandre O'Neill.

Sérgio Godinho é um contador de histórias.

Embrulha o quotidiano, pequenos nadas, em música, e tem-nos dado uma mão cheia de bonitas canções. Difícil sempre saber qual a melhor, a mais bonita, o que quer que seja.

Sérgio Godinho, antes do 25 de Abril, apenas gravou dois álbuns. Do primeiro já aqui, se falou e este é o segundo em que nos oferece “Pré-histórias”, como o anterior, gravado no “Strwberry Studio” em Hérouville.

Quantas vezes rodei este disco?

Direi que incalculáveis são essas vezes.

Que é que tem o Barnabé que é diferente dos outros, aprender a amar pela madrugada, eh, meu irmão, que é que tens, então eu já nasci e o galo ainda não morreu, o homem com o porvir na pedaleira, pode alguém ser quem não é, a vista a fraquejar, a chegada do homem dos sete instrumentos e assim nos ficamos até domingo que vem.

Sim até domingo que vem.

Os ouvidos, hoje, são outros, o tempo também, mas continua a ser gratificante ouvir “Pré-Histórias”.

O que nem sempre acontece.

"A Noite Passada"

“A noite passada acordei com o teu beijo
descias o Douro e eu fui esperar-te ao Tejo
vinhas numa barca que não vi passar
corri pela margem até à beira do mar
até que te vi num castelo de areia
cantavas "sou gaivota e fui sereia"
ri-me de ti "então porque não voas?"
e então tu olhaste
depois sorriste
abriste a janela e voaste

A noite passada fui passear no mar
a viola irmã cuidou de me arrastar
chegado ao mar alto abriu-se em dois o mundo
olhei para baixo dormias lá no fundo
faltou-me o pé senti que me afundava
por entre as algas teu cabelo boiava
a lua cheia escureceu nas águas
e então falámos
e então dissemos
aqui vivemos muitos anos

A noite passada um paredão ruiu
pela fresta aberta o meu peito fugiu
estavas do outro lado a tricotar janelas
vias-me em segredo ao debruçar-te nelas
cheguei-me a ti disse baixinho "olá",
toquei-te no ombro e a marca ficou lá
o sol inteiro caiu entre os montes
e então tu olhaste depois sorriste
disseste "ainda bem que voltaste"



1 comentário:

Maria Fernanda Simões disse...

Era dificil comentar uma a uma as últimas publicações, mas não podia deixar passar sem te agradecer as magnificas recordações de poesia e canções, que foram bandeiras da nossa luta contra a ditadura.
Bjs,