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Pare, Escute e Olhe - José Jorge Letria
Arte Poética - Hélia Correia/José Jorge Letria
Tal como "Erguer a Voz e Cantar" de António Macedo, “Arte Poética”, a faixa B deste single, foi largamente cantada, antes do 25 de Abril, em convívios estudantis e trabalhadores.
Trata-se de um bonito poema de Hélia Correia com música de José Jorge Letria.
Não sei se, em posteriores edições, alguma vez foi feita a devida correcção, mas no disco não consta a autoria do poema “Arte Poética”. Mesmo em espectáculos públicos de então, pelo menos aos que assisti, José Jorge Letria não mencionava o nome de Hélia Correia.
Bom, mas isto são coisas que já lá vão e é bem provável que alguma rectificação tenha sido feita.
Na contracapa José Jorge Letria deixou escrito um texto em que pretende dar a conhecer as dificuldades sentidas na edição dos seus discos. Não apenas suas dificuldades, de outros também:
“Foi mais de um ano de silêncio (depois do primeiro disco-fracassado). Mais de um ano de silêncio inteiramente assumido. Voluntariamente aceite. É fora dos circuitos normais (televisão, rádio, promoção, venda) que, dolorosamente, sem trincheiras nem disfarces, se descobrem os amigos (?), que se aprende a abominar a hipocrisia e a falsa coerência, a miséria das intenções, a ignorância das coisas elementares."É no silêncio (um certo silêncio, entenda-se), que se descobre a utilidade das palavras. O seu fogo. A sua forma exacta. A sua acutilante facilidade de chegar onde mais ninguém chega. E ao mesmo tempo a sua infinita pobreza. A sua enorme timidez. Sim, porque as palavras são tímidas. Haverá alguém que duvide?"Para mim conservo a certeza de que está tudo ainda por fazer. Não são meia dúzia de discos ou de frases publicitárias, publicamente ditas, que definem uma música e lhe dão a necessária consistência. Desfaçam-se pois os equívocos. Já não é sem tempo. A quem me ouvir deixo, entretanto, a possibilidade de transformar em acto (ou quase) o que no canto se propõe. Se isso não acontecer fico, pelo menos, com a certeza de ter levado até ao fim a minha ingenuidade. Ou seja o silêncio donde partiu. Para os que ficarem pelo caminho vai também a minha saudação."
"Arte Poética"
”Que o poema tenha carne
ossos vísceras destino
que seja pedra e alarme
ou mãos sujas de menino.
Que venha corpo e amante
e de amante seja irmão
que seja urgente e instante
como um instante de pão.
Só assim será poema
só assim terá razão
só assim te vale a pena
passá-lo de mão em mão.
Que seja rua ou ternura
tempestade ou manhã clara
seja arado e aventura
fábrica terra e seara.
Que traga rugas e vinho
berços máquinas luar
que faça um barco de pinho
e deite as armas ao mar.
Só assim será poema
só assim terá razão
só assim te vale a pena
passá-lo de mão em mão”
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