A morte de Mário de Viegas foi uma completa mentira.
Tal como o dia em que saiu porta fora para ir beber uns gins-tónics com o Mário-Henrique Leiria, assim como quem diz que vai ali e volta já.
Ainda estão a gargalhar, a contar histórias, a beber gins.
O guerrilheiro da palavra dedicou a vida às palavras dos outros, mais do que às dele.
Sempre disse, e fez, o que exactamente quis dizer e fazer.
Suscitou paixões e ódios, nada de meios-termos.
Acreditava que se a felicidade é possível, apenas o seria quando se possui todos os vícios. Não lhe terá faltado nenhum: paixões múltiplas, ódios, amores, tabaco, bebida, principalmente gin-tonic, teatro, poesia, cultura vária, polémicas, escândalos.
Sempre viveu intensamente, livremente, com coragem e generosidade.
Desprezava o poder e sempre disse que as únicas causas por que vale a pena lutar, eram as perdidas.
“Porque é que a genialidade encurta a vida?”, perguntava José Niza, a propósito do Mário Viegas.
“O Teatro é a Arte mais efémera do mundo, por isso eu sou um Homem de Teatro.
O Teatro sempre foi a minha vida e a minha morte”, disse ele
José Saramago escreveu no 4º volume dos seus "Cadernos de Lanzarote":
“Era um cómico que levava dentro de si uma tragédia. Fazia rir, mas não ria. Pouca gente em Portugal tem valido tanto”.
Certamente, quando saiu porta fora, ia a recitar aqueles versos, de que tanto gostava, versos do seu amigo Raul de Carvalho:
“Serenidade, és minha.”
Foi há 14 anos.
Faz-nos uma falta do caraças!
Legenda: Capa do programa "Mário Gin-Tónico Volta a Atacar", Março de 1987
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