Esta é a lª página do último Diário de Lisboa.
Um adeus que se funde em 28 páginas de jornal e mais 32 páginas de um suplemento em que se fala, muito resumidamente da longa caminhada, perto de 70 anos, de um jornal que foi uma referência para tantas gerações.
Vitor Silva Tavares, um das muitas centenas e centenas de colaboradores que passaram por aquela casa, resume: O Diário de Lisboa sobreviveu à censura, mas não resistiu à falta de dinheiro.
Na última página, o jornalista Acácio Barradas deixou expressa a Certidão de Óbito:
Aos trinta dias do mês de Novembro de mil novecentos e noventa morreu na sua residência do Bairro Alto, à rua Luz Soriano, 44 o jornal “Diário de Lisboa”. O extinto que contava 69 anos, teve uma prolongada agonia, a que resistiu com bravura durante os últimos anos. Para o efeito muito contribuíu não apenas a indómita vontade de viver do paciente, mas o saber dos especialistas que, ao longo dos tempos, foram chamados à cabeceira, a fim de lhe diagnosticarem os males e receitarem o tratamento adequado. Submetido recentemente a um processo de recuperação duradoira, acabaria no entanto por sucumbir a uma hemorragia financeira de 400 mil contos por falta de injecção de publicidade indispensável em tal emergência. Tendo atingido um estado de debilidade desesperada, que afectou o bom rendimento de todos os seus órgãos vitais, desde o redactorial ao administrativo e ao técnico, o “Diário de Lisboa” acabaria por ser vítima das implacáveis leis do mercado, hoje mais do que nunca submetidas ao império do dinheiro, um estendal de indiferença pelos valores que, ao longo da sua longa vida, lhe exornaram o título e lhe inculcaram a atitude de altaneira de quem não sabe dobrar a espinha. Com o seu desaparecimento, a esquerda democrática portuguesa perde um dos seus mais ilustres e combativos membros, cuja falta porventura irá em breve sentir dramaticamente. Paz à sua alma.
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