segunda-feira, 19 de novembro de 2012

SARAMAGUEANDO



Para comemorar os 90 anos do nascimento de José Saramago, a Caminho colocou, durante três dias, todos os seus livros à venda com um desconto de 50%.

Não faltando, na estante, nenhum livro de Saramago, ocorreu-me que poderia aproveitar a campanha para comprar um outro exemplar de O Ano da Morte de Ricardo Reis.

Aqui pela casa quase posso garantir que não existe livro que tenha sido mais manuseado, lido e dessas felizes aventuras o livro se ressente, desfazendo-se em páginas que ficam nas mãos.

Comprado ontem, verifico que  já vai na sua 20ªedição.

Publicado em 1984, e é o livro favorito de muita gente a começar pelo próprio José Saramago.

Por ele Pilar dispôs-se a vir a Lisboa, para conhecer os lugares de que no livro o autor falava. Teve, também, um encontro com Saramago e sabe-se o que veio a acontecer.

Pilar: que tanto tardou a chegar.

Quase de uma só vez, se lê o Ano da Morte de Ricardo Reis. Depois há que voltar muitas vezes e descobrem-se sempre novas palavras, outros enredos. Foi assim que o livro se foi desfazendo.

Termina assim:

Então vamos, disse, Para onde é que você vai, Vou consigo, Devia ficar por aqui, à espera da Lídia, Eu sei que devia, Para a consolar do desgosto de ter ficado sem o irmão, Não lhe posso valer, E esse livro, para que é, Apesar do tempo que tive, não cheguei a acabar de lê-lo, Não irá ter tempo, Terei o tempo todo, Engana-se, a leitura é a primeira virtude que se perde, lembra-se. Ricardo Reis abriu o livro, viu uns sinais incompreensíveis, uns riscos pretos, uma página suja, Já me custa ler, disse, mas mesmo assim vou levá-lo, Para quê, Deixo o mundo aliviado de um enigma. Saíram de casa, Fernando Pessoa ainda observou, Você não trouxe chapéu, Melhor do que eu sabe que não se usa lá. Estavam no passeio do jardim, olhavam as luzes pálidas do rio, a sombra ameaçadora dos montes. Então vamos, disse Fernando Pessoa, Vamos, disse Ricardo reis. O Adamastor não se voltou para ver, parecia-lhe que desta vez ia ser capaz de dar o grande grito. Aqui, onde o mar se acabou e a terra espera.

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