Publicada no Público, de 23 de Setembro, uma reportagem de Natália Faria, com fotografias de Adriano Miranda, sobre Soutelo Mourisco, a aldeia mais pequena do país, com um olhar para a crise.
Afunda-se Portugal sob as imposições da troika que, para os 31 habitantes de Soutelo Mourisco, é quase o mesmo que falarem grego. Nesta aldeia do concelho de Macedo de Cavaleiros, vota-se PSD mas poucos sabem apontar o nome ao primeiro-ministro. O aumento das contribuições para a Segurança Social não é coisa que os afecte grandemente porque a maioria nunca recebeu um salário. Come-se do que se cultiva nos campos.
É uma interessantíssima reportagem que, a determinado ponto retém um delicioso episódio.
Acontece quando Natália Faria ouve Palmira a remoer a desilusão: O país está todo roto. Eu, se tivesse adivinhado para onde isto ia, não tinha votado.
Abílio não tem tantas certezas. Ainda mais agora que ouve debitar uma série de nomes que não lhe dizem nada.
- A troika?
- Tenho ouvido falar muito nisso, mas para lhe dizer o que é não sei.
- O FMI?
- Isso será para s pessoas mais estudadas. Se cá estivesse o meu rapaz, talvez lhe soubesse dizer alguma coisa. Eu escuto no rádio, umas vezes entendo, outras não. Mas nunca perguntei nada a ninguém. Será melhor não falar para não errar.
- Mas costuma votar?
- Para lhe ser franco, voto sempre no da seitoura.
- Seitoura?
- Não vê aquele que lá aparece com a seitoura e o martelo?
- O PCP.
- É no que voto sempre.
- Não é uma foice?
- Aqui chamamos-lhe “seitoura”, que é com o que se segava o pão dantes.
- Então porquê?
- Se eles não fossem pelos trabalhadores, não punham lá a seitoura e o martelo. E ninguém me tira daí a ideia, nem a mulher, nem filho, nem nada.
Legenda: imagem do Público.
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