domingo, 19 de julho de 2015

OS IDOS DE JULHO DE 1975


19 de Julho de 1975

O dia em que, finalmente, a «maioria silenciosa» desceu à rua e se fez ouvir, com o Partido Socialista à frente, contra todos os radicalismos da esquerda civil e do Movimento das Forças Armadas.
A Alameda encheu-se, e estava lá de tudo para ouvir Mário Soares exigir a demissão imediata de Vasco Gonçalves e gritar:
Nós não temos medo. Não pode impunemente mentir-se ao povo português
Vasco Gonçalves não tem idoneidade moral nem política para ser o primeiro-ministro de Portugal!
Na Alameda ecoou o grito:
Fora o Vasco!
Ainda houve tempo para Mário Soares, «já com a a voz bastante rouca» informar os manifestantes de que a Direcção doo P.C.P. é uma cúpula de paranóicos e que a Intersindical é uma cúpula de irresponsáveis.
Alguns anos mais tarde, Mário Soares declarou que, se não tivesse pedido a ajuda a D. António Ribeiro, Cardeal Patriarca de Lisboa, não teria conseguido aquela multidão no comício da Alameda.
Na madrugada deste dia, o  MFA divulgou um comunicado onde poderia ler-se:
Portugal viveu, uma vez mais, dias decisivos para o seu processo revolucionário, caracterizados desta vez por um clima de instabilidade política, habilmente arquitectado por homens que parecem colocar, acima dos superiores interesses e anseios do povo português, a sua vaidade e a sua ambição.
Assistiu-se neste período por parte dos dirigentes de um partido que, pelo seu programa, deveria ser um dos mais importantes partidos políticos portugueses, a uma escalada de violência verbal, que, hábil mas traiçoeiramente, explorou as carências e insuficiências do nosso processo revolucionário e provocou, através da demagogia, da mentira e da calúnia, uma escalada de violência física que já causou vítimas inocentes no seio do Povo português.
O M.F.A está e estará sempre com todos os que honesta e conscientemente pretendem construir o Portugal de felicidade que os vossos filhos mereçam.
José Saramago, no Apontamento que na véspera publicara no Diário de Notícias, escreveu:
Nenhuma dúvida é já possível: ou Portugal cai sob a repressão de um regime neofascista capaz de rivalizar com o Chile de Pinochet e seus mandantes, ou cede às pressões nacionais e internacionais interessadas em fazê-lo ingressar na jangada capitalista e hábil da social-democracia, ou avança decididamente, lutando, para o socialismo. É isto o essencial, se não nos enganamos – e não vemos que alguém aí possa provar o contrário.

Fontes:
- Acervo pessoal;
Os Dias Loucos do PREC de Adelino Gomes e José Pedro Castanheira.

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