19 de Julho de
1975
O dia em que,
finalmente, a «maioria silenciosa» desceu à rua e se fez ouvir, com o Partido
Socialista à frente, contra todos os radicalismos da esquerda civil e do
Movimento das Forças Armadas.
A Alameda
encheu-se, e estava lá de tudo para ouvir Mário Soares exigir a demissão
imediata de Vasco Gonçalves e gritar:
Nós não temos medo. Não pode impunemente mentir-se ao
povo português
Vasco Gonçalves não tem idoneidade moral nem política
para ser o primeiro-ministro de Portugal!
Na Alameda ecoou
o grito:
Fora o Vasco!
Ainda houve
tempo para Mário Soares, «já com a a voz bastante rouca» informar os
manifestantes de que a Direcção doo P.C.P. é uma cúpula de paranóicos e
que a Intersindical é uma cúpula de irresponsáveis.
Alguns anos mais
tarde, Mário Soares declarou que, se não tivesse pedido a ajuda a D. António
Ribeiro, Cardeal Patriarca de Lisboa, não teria conseguido aquela multidão no
comício da Alameda.
Na madrugada
deste dia, o MFA divulgou um comunicado onde poderia ler-se:
Portugal viveu, uma vez mais, dias decisivos para o
seu processo revolucionário, caracterizados desta vez por um clima de
instabilidade política, habilmente arquitectado por homens que parecem colocar,
acima dos superiores interesses e anseios do povo português, a sua vaidade e a
sua ambição.
Assistiu-se neste período por parte dos dirigentes de
um partido que, pelo seu programa, deveria ser um dos mais importantes partidos
políticos portugueses, a uma escalada de violência verbal, que, hábil mas
traiçoeiramente, explorou as carências e insuficiências do nosso processo
revolucionário e provocou, através da demagogia, da mentira e da calúnia, uma
escalada de violência física que já causou vítimas inocentes no seio do Povo
português.
O M.F.A está e estará sempre com todos os que honesta
e conscientemente pretendem construir o Portugal de felicidade que os vossos
filhos mereçam.
José Saramago,
no Apontamento que na véspera publicara no Diário de Notícias,
escreveu:
Nenhuma dúvida é já possível: ou Portugal cai sob a
repressão de um regime neofascista capaz de rivalizar com o Chile de Pinochet e
seus mandantes, ou cede às pressões nacionais e internacionais interessadas em
fazê-lo ingressar na jangada capitalista e hábil da social-democracia, ou
avança decididamente, lutando, para o socialismo. É isto o essencial, se não
nos enganamos – e não vemos que alguém aí possa provar o contrário.
Fontes:
- Acervo
pessoal;
- Os Dias
Loucos do PREC de Adelino
Gomes e José Pedro Castanheira.
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