O Hóspede de Job
José Cardoso
Pires
Editora Arcádia,
Lisboa, Maio de 1965
Espalmada em córregos secos, numa terra de barro e
areão que encarquilha ao sol; rasgados os campos pela estrada longa de asfalto
ou por baforadas ronceiras de comboio – assim, no despontar da charneca, fica
Cercal Novo: um clarim, uma igreja abraçada ao quartel, meia dúzia de casas ao
correr da estrada, e principalmente um silvo, um delicado traço de fumo a
alastrar sobre a planície:
«Uuuuu…»
«Comboio de Évora», dizem os militares nas casernas.
«Comboio de Évora», diz-se na cadeia, na enfermaria e
na Casa do Soldado. «Comboio de Évora, comboio dos correcços e de quem vai de
licença.»
E ao balcão das vendas alguém canta:
Lá vai o comboio, lá vai
Lá vai ele a assobiar…
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