Catabalanza Quilolo e Volta
Fernando Assis
Pacheco
Capa: A.J.
Cortez Pinto
Centelha
Editora, Coimbra, Maio de 1976
NÃO DORMIAS, NÃO
DORMES
(1)
Olha,
Nambuangongo! As bombas explodem na mesa de cabeceira.
(2)
Mais de um
vi eu que se lhe prendiam as fezes e saía cá para fora falando alto contra o
regime (leia-se alimentar)
(3)
Num sábado
fui para um morro à espera da coluna, se soubesses o que a gente imagina,
imagina tudo, imagina que uma cabra duma bala ou um estilhaço ou uma bailarina
e depois a gente tristemente põe-se a fumar, mija de manso no camuflado, grita
coisas que são versos para 1980, ah.
(4)
Eu
mostrar-te-ia o Quengue, o Camecungo aprendi depressa uma guerra e digo: algum
dia hás-de ouvir-me, digo que mão dormias, não dormes, quem dorme é o Luiz
Pacheco mas a esse desculpo e empresto vintes.
(5)
Olha, a
picada do Huong. Julgas que tirei, se tiram fotografias? Aquilo a gente, vai,
volta, e sossegadinhos. Tem capim desta altura!
(6)
As bombas – e
tu se calhar crês que não – explodiam na mesa de cabeceira. Literalmente.
Explodiam às três e às quatro. Morri uma sexta-feira, uma quinta, no dia
seguinte davam-se massas ao faxina para recolher tudo para o balde – ossos,
tripas tudo.
(7)
Por favor
olha: onde estive, onde o capim passava do ombro, a morte passava e a
melancolia.
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