Mão Direita do Diabo
Dennis McShade
Capa: Abreu
Teixeira
Editorial Ibis,
Amadora, Janeiro de 1967
Chatices, toda a gente tem, Maynard. Não é pior estar
aqui, num esquecido quarto de hotel de Chicago, com uma úlcera que é uma broca,
do que ter um cancro na garganta ou uma perna gangrenada. Não é pior andar a
monte, sozinho entre as pessoas, escondendo o rosto dos espelhos, fugindo com o
corpo a balas que têm um nome inscrito, do que morrer de sede no deserto do
Saara ou de fome num campo de concentração. Maynard, viver é pagar um preço. Viver
é acumular horas que depois se sabe terem sido desperdiçadas, porque não são
mesmo para outra coisa. Isto que se chama experiência, pegar nas coisas com os
dedos e vê-las com os olhos, que deixa na boca um sabor a fel, é mesmo assim,
porque não pode ser de outra maneira. Chorar no próprio ombro é, além de esteticamente
desaconselhável, um preciosismo humano quase odioso, se há razão, e tem que
haver, para falar em nome de uma certa virilidade que é a tua tão antiga e
dolorosa máscara. Surpresa, Maynard, surpresa? O homem que se surpreende não é
adulto.
Sem comentários:
Enviar um comentário