segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

ENVELHECER JUNTOS


Para fechar o dia de hoje, um bom dia, um poema de amor, chinês, do século XVIII, na tradução de João José Cochofel, da tradução francesa de Claude Roy.

O meu marido sua nos campos, em casa peno eu.

Os esposos trabalham muito
Ajudam-se um ao outro.

Os esposos da aldeia cuidam do amor.
Os esposos da cidade cuidam dos vestidos.

Pode trocar-se um vestido velho por outro novo.
Não se pode trocar o amor de toda uma vida.

Eu cozo o arroz, preparo o chá
Tu mondas, semeias, cavas e ceifas.

Quando como um ovo, deixo-te a gema.
Envelhecemos juntos.

«Como conciliar esta poesia de um amor digno, igualitário, cimentado num destino comum, com a situação degradada da mulher na sociedade chinesa do tempo» - pergunta João José Cochofel e a mim só me acode uma resposta, uma pergunta também: «como conciliar, sim, o nosso amor, camarada L. com a situação degradada do amor na sociedade do nosso tempo, neste país?...»

José Luandino Vieira em Papéis da Prisão

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