Para fechar o dia de hoje, um bom dia, um poema de
amor, chinês, do século XVIII, na tradução de João José Cochofel, da tradução
francesa de Claude Roy.
O meu marido sua nos campos, em casa peno eu.
Os esposos trabalham muito
Ajudam-se um ao outro.
Os esposos da aldeia cuidam do amor.
Os esposos da cidade cuidam dos vestidos.
Pode trocar-se um vestido velho por outro novo.
Não se pode trocar o amor de toda uma vida.
Eu cozo o arroz, preparo o chá
Tu mondas, semeias, cavas e ceifas.
Quando como um ovo, deixo-te a gema.
Envelhecemos juntos.
«Como conciliar esta poesia de um amor digno,
igualitário, cimentado num destino comum, com a situação degradada da mulher na
sociedade chinesa do tempo» - pergunta João José Cochofel e a mim só me acode
uma resposta, uma pergunta também: «como conciliar, sim, o nosso amor, camarada
L. com a situação degradada do amor na sociedade do nosso tempo, neste país?...»
José Luandino Vieira
em Papéis da Prisão
Sem comentários:
Enviar um comentário