Pela leitura da
Correspondência trocada entre Jorge de Sena e Eugénio de Andrade, constata-se que
ambos eram entusiastas da obra de Teixeira de Pascoaes.
Após a morte de
Teixeira de Pascoaes, Jorge de Sena tem a ideia de organizar uma edição dos «Cadernos de Poesia» sobre o poeta. Eugénio de Andrade, em carta datada de 19 de
Dezembro de 1952, escreve:
Na Biblioteca do
meu pai, não havia um único livro de Teixeira de Pascoaes.
Quando em Junho
de 1966 li A Memória das Palavras dei com os encómios que o José Gomes
Ferreira dedica a Pascoaes:
«A conselho de Leonardo Coimbra comprei o Sempre e então aconteceu o abismo. De
súbito ruíram-se-me na alma anos e anos de falsa literatura, de improvisos à
Bocage, de construções de palavras de caliça, sem subterrâneos, com que a
pátria oficial das escolas sufoca desde a infância verdadeira poesia a correr
em fontes de borboletas absurdas…»
Meti conversa
com o meu pai sobre Teixeira de Pascoaes e ele disse-me que era escritor que
não o entusiasmava.
O meu pai era das pessoas menos saudosistas que até hoje conheci.
O meu pai era das pessoas menos saudosistas que até hoje conheci.
Nestas
circunstâncias, e tendo respeito por opiniões de gente como José Gomes Ferreira,
e como gostei sempre de melhorar a minha
vasta ignorância, andei pelas livrarias, alguns alfarrabistas, em demanda de um
qualquer livro de Teixeira de Pascoaes.
Não tive
qualquer ponta de sorte e mesmo ao longo dos tempos nunca encontrei obras de
Pascoaes.
De modo que
Pascoes é uma das muitas lacunas que transporto.
E, pelo andar da
carruagem, penso que assim continuará a ser.
Por sinal, José
Gomes Ferreira, refere, já naquele tempo, a dificuldade em encontrar livros de Pascoaes:
«Sim. Já lá vão anos sem fim desde a última vez que
falei com Teixeira de Pascoaes, aqui, diante desta montra… (Sinto que vou
indignar-me!) sim, exactamente aqui, diante desta montra (Vem, indignação,
vem!), onde nunca, nunca, nunca, NUNCA me lembro de ter visto exposto um único
livro de versos do Poeta. Nem aqui, nem em qualquer outra montra de Lisboa,
aliás. Só nos alfarrabistas, para educação das traças.
Dir-se-ia que Teixeira de Pascoaes não existe.»
Remato este evocação
de Teixeira de Pascoaes, folheando a História da Literatura Portuguesa de
António José Saraiva e Óscar Lopes, capítulo intitulado «Teixeira de Pascoaes
e a evolução do Saudosismo»:
«A designação de Saudosismo pertence, em sentido
restrito e corrente, a um movimento estético e doutrinário que tem como figura
central o poeta Teixeira de Pascoaes. Embora influenciado pela estética
simbolista, o saudosismo deve considerar-se sobretudo com um desenvolvimento do
misticismo panteísta que se acentua na fase declinante da geração de 70.»
Propriamente sobre
Teixeira de Pascoaes:
«A comunicabilidade da obra de Pascoaes é muito
prejudicada, e sê-lo-á cada vez mais, pela sua pretensão de atingir profundas
verdades através de meras extrapolações analógicas, por certa suficiência em
que se insulou, com o seu círculo de admiradores desenraizados dos problemas
reais portugueses. No entanto, subsiste nalguns dos seus livros certo fôlego,
certa largueza de concepção do romantismo progressista (Vida Etérea, 1906; Regresso ao Paraíso,
1912); e no seu lirismo, monòtonamente elegíaco e sombrio, há, em
compensação, uma sensibilidade vibrátil
que alarga os seus motivos de interesse para fora do vulgar âmbito pessoalista
e erótico: há como que um sentido franciscano de companheirismo que abrange
mulheres, homens, símbolos, bichos, árvores, pedras, o Marão, Tâmega e a
própria morte (Senhora da Noite, 1909; Marânus, 1911; o Doido e a Morte,
1913; Elegia do Amor, 1924; etc.).»
Legenda: José Gomes Ferreira e Teixeira de Pascoaes, fotografia tirada da Fotobiografia de José Gomes Ferreira
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