Pode-se viver
sem ler?
Pode, mas
vive-se pior.
Há discursos
sagrados em redor dos livros mas nada impede que Pepe Carvalho, o célebre
detective de Manuel Vasquez Montalban, doente pelo Barcelona, bom garfo, amante
de um bom cognac e um “puro” , também de boleros, admirador de mulheres nas
“ramblas”, pusesse o detective de Manuel Vasquez Montalban, todas as noites
acender a lareira com as páginas das suas leituras preferidas.
Num país de
iletrados não é difícil encontrar ignorantes.
Pena é que sejam
burros ao ponto de, orgulhosamente, afirmarem que nunca leram um livro, como se
isso fosse uma prova de entrada no reino dos céus.
Números velhos,
talvez de 2004, mostravam que 1 em cada 10 portugueses não sabe ler ou
escrever. São os analfabetos absolutos. Depois há os alfabetizados
(teoricamente) que não lêem (90% dos portugueses) e os que lêem, mas não sabem
interpretar, nem assimilar o que lêem.
Conheço
criaturas que frequentaram, ou tiraram um curso superior, sem ter um único
livro em casa, mesmo do que andaram a cursar.
Como tudo isto
acontece?
Diz quem andou por
lá, que há estupendas “sebentas” nas nossas faculdades.
Cabe aqui a
história do petiz a quem o Raul Solnado perguntou se gostava de ler e que lhe
respondeu: “Evito!”
Os
nossos livros estão empoeirados
canecas
de cerveja ensinam melhor,
a
cerveja dá-nos prazer,
os
livros só aborrecimentos.
Fia-te nos que
gostam de ler, desconfia quando alguém te diz que não tem tempo para ler, dizia
o meu avô, um leitor compulsivo.
Os pobres não lêem
porque não têm meios e os ricos porque não querem.
É mais fácil
passar o tempo a olhar para a televisão. Outros há que desviam o dinheiro que
têm para outras prioridades: comprar um carro topo-de-gama, comprar uma casa na
praia, férias em Punta Cana ou qualquer outro lugar exótico.
Lê-se porque
sim, porque não se pode deixar de ler.
A leitura é um
hábito que, no entanto, necessita de constante exercício porque quando se perde
o hábito de ler, a necessidade de ler, o prazer de ler, corre-se o risco de não
se recuperar.
Não é bem como andar
de bicicleta...
François
Truffautt adaptou ao cinema um livro de Ray Bradbury: Farenheit 451.
Filme e livro
perturbantes.
Ler é pecado,
quem pensa é um fora da lei.
Não há só gaivotas em terra quando um homem
se põe a pensar, cantava o José Afonso, Mao Tsé Tung
dizia que ler demasiado é prejudicial, Júlio César, na peça de
Shakespeare, desconfiava de Cássio porque era magro e porque lia muito.
Escreveu Paul
Valery que os livros têm os mesmos inimigos que o homem: o fogo, a humidade,
os animais, o tempo, e o seu próprio conteúdo.
William Wrigley,
milionário da pastilha elástica, ao mobilar o seu sumptuoso apartamento, em Chicago,
deu ordens à secretária: Meça-me aquelas prateleiras e compre-me os livros
suficientes para mas encher. Arranje-me uma data de livros de um verde e um
encarnado vivos e com uma batelada de letras douradas. Quero uma vista catita.
Livros para
completar a mobília, dizia o Eça de Queiroz.
Jorge Luis Borges afirmou que o paraíso, se existe, tem
a forma de uma biblioteca e o poeta francês Stéphane Mallarmé sabia que tudo
no mundo existe para se transformar em livro.
Nota do Editor: o título é uma frase do Jorge Silva Melo
Nota do Editor: o título é uma frase do Jorge Silva Melo
Legenda: pintura
de Di Cavalcanti
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