Orbison, na verdade, transcendia todos os géneros – folk, country, rock-and-roll,
e quase tudo o mais. As suas músicas misturavam todos os estilos e até alguns
que ainda não tinham sido inventados. Ele podia soar mal e desagradável num
verso e depois, no verso seguinte, cantar numa voz de falsete como a do Frankie
Valli. Com o Roy não se sabia se estávamos a ouvir mariachi ou ópera. Ficávamos
com pele de galinha. Tudo nele era oito ou oitenta. Soava como se estivéssemos no
cimo do monte Olimpo e soubesse o que andava a fazer. Uma das suas primeiras
canções, «Ooby Dooby» tinha sido bastante popular mas a sua nova canção não era
nada assim. «Ooby Dooby» era decepcionantemente simples, mas Roy tinha
progredido. Estava agora a cantar as suas composições em três ou quatro
oitavas, o que nos dava vontade de atirar com o carro por uma ravina abaixo.
Cantava como um criminosos profissional. Começava por um nível baixo, quase
inaudível, mantinha-se por lá e depois, surpreendentemente, lançava-se para
entoações exageradas. A sua voz podia enlouquecer um cadáver e fazia-nos resmungar
coisas do género «Meu, não acredito nisto». As canções dele tinham canções
dentro de canções. Alternavam de tonalidade maior para menor sem qualquer
lógica. Orbison não brincava em serviço – não era nem um amador nem um
principiante. Não havia nada como ele na rádio. Ficava na esperança de ouvir
outras canções boas mas comparado com Roy, o que passava na rádio era uma
chatice… sem coragem e sem energia. Tratavam-nos como se não tivéssemos
cérebro. À excepção do George Jones, não gostava da música country. Elvis
Presley. Já ninguém o ouvia. Há anos que ele tinha feito aquelas coisas com as
ancas e levado as canções a outros planetas. Ainda assim, eu continuava a ligar
o rádio, provavelmente mais por hábito do que por qualquer outra razão.
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