Passadas as emoções
do momento, quero deixar referido que as cerimónias fúnebres de Mário Soares
nos Jerónimos, o mesmo cenário que marcou a assinatura da cerimónia da adesão
de Portugal à CEE, tiveram passos marcantes mas quero referir dois: a
declamação, por Maria Barroso, de Os Dos Sonetos de Amor da Hora Triste de
Álvaro Feijó, a audição da Lacrimosa do Requiem de Mozart.
O começo da
minha aprendizagem dos poetas portugueses contemporâneos, está marcado pela
leitura dessa espantosa Colecção Poetas de Hoje, da Portugália Editora.
Hoje, o poeta Álvaro Feijó, como tantos outros, apenas é conhecido por uma minoria
e, por sinal, é o número 1 dessa colecção.
I
Quando eu morrer - e hei-de morrer primeiro
do que tu - não deixes fechar-me os olhos
meu Amor. Continua a espelhar-te nos meus olhos
e ver-te-ás de corpo inteiro
como quando sorrias no meu colo.
E, ao veres que tenho toda a tua imagem
dentro de mim, se, então, tiveres coragem,
fecha-me os olhos com um beijo.
Eu, Marco
Pólo,
farei a nebulosa travessia
e o rastro da minha barca
segui-lo-ás em pensamento. Abarca
nele o mar inteiro, o porto, a ria...
E, se me vires chegar ao cais dos céus,
ver-me-ás, debruçado sobre as ondas, para dizer-te
adeus.
II
Não um adeus distante
ou um adeus de quem não torna cá,
nem espera tornar. Um adeus de até já,
como a alguém que se espera a cada instante.
Que eu voltarei. Eu sei que hei-de voltar
de novo para ti, no mesmo barco
sem remos e sem velas, pelo charco
azul do céu, cansado de lá estar.
E viverei em ti como um eflúvio, uma recordação.
E não quero que chores para fora,
Amor, que tu bem sabes que quem chora
assim, mente. E, se quiseres partir e o coração
to peça, diz-mo. A travessia é longa... Não atino
talvez na rota. Que nos importa, aos dois, ir sem
destino.
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