quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

O ÚLTIMO DIA DO MUNDO CONHECIDO


É dia de lamentar o abuso de frases que nos irão fazer falta no dia exato delas: amanhã, e não os outros dias em que invocámos a frase batida, é que é o primeiro dia do resto das nossas vidas. Qual dia em que Armstrong pisou a Lua! Lembremo-nos é do que fazíamos a 20 de janeiro de 2017, do dia que os vindouros nos irão pedir memórias ou até contas. O dia em que a América deixou de ser a nossa aliada e, até (se quem exercer o poder que lhe foi dado a partir de amanhã, o puder fazer à sua maneira), deixou de ser um país decente. Há dias, no jornal Guardian, alguém fez o título certo: "Deixem de tomar Donald Trump como um presidente normal. Ele não é." E ele não é. Ele não é. E ninguém faz aqui análises políticas, mas só toma a atitude que se exige perante os infrequentáveis. Em circunstâncias normais, o personagem a ser lembrado hoje, aquele que vai deixar de ser o líder da única potência mundial, deveria ser hoje invocado. Mas Obama passou a rodapé da história. Não por ele, aconteceria o mesmo se fosse qualquer outro presidente americano de que temos memória: quem precede Donald Trump é o mero ramal, mesmo que tenha sido apesar dele, que nos levou à América de Trump. E esta é de tal maneira insuportável e previsivelmente perigosa que à data da tomada de posse deve dizer-se, hoje, que será indigno vir a dizer "não sabíamos". Valha-nos isso, a criatura não esconde quem é. Tomemos nota: agora é a América de Trump, outra coisa.


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