É dia de lamentar o abuso de frases que nos irão fazer
falta no dia exato delas: amanhã, e não os outros dias em que invocámos a frase
batida, é que é o primeiro dia do resto das nossas vidas. Qual dia em que
Armstrong pisou a Lua! Lembremo-nos é do que fazíamos a 20 de janeiro de 2017,
do dia que os vindouros nos irão pedir memórias ou até contas. O dia em que a
América deixou de ser a nossa aliada e, até (se quem exercer o poder que lhe
foi dado a partir de amanhã, o puder fazer à sua maneira), deixou de ser um
país decente. Há dias, no jornal Guardian, alguém fez o título certo:
"Deixem de tomar Donald Trump como um presidente normal. Ele não é."
E ele não é. Ele não é. E ninguém faz aqui análises políticas, mas só toma a
atitude que se exige perante os infrequentáveis. Em circunstâncias normais, o
personagem a ser lembrado hoje, aquele que vai deixar de ser o líder da única
potência mundial, deveria ser hoje invocado. Mas Obama passou a rodapé da
história. Não por ele, aconteceria o mesmo se fosse qualquer outro presidente
americano de que temos memória: quem precede Donald Trump é o mero ramal, mesmo
que tenha sido apesar dele, que nos levou à América de Trump. E esta é de tal
maneira insuportável e previsivelmente perigosa que à data da tomada de posse deve
dizer-se, hoje, que será indigno vir a dizer "não sabíamos".
Valha-nos isso, a criatura não esconde quem é. Tomemos nota: agora é a América
de Trump, outra coisa.
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