Mário-Henrique
Leiria nasceu a 2 de Janeiro de 1923 e morreu a 9 de Janeiro de 1980.
Há quem diga que
morreu de fome, de prolongado abandono. O Luiz Pacheco não concordava e escreveu:
Não dei por tal. Da última vez que o visitei na Vivenda Xavier, em
Carcavelos, estava doente, acamado. Mas dotado do humor mordaz que sempre lhe
conheci. Rimo-nos muito, como de costume. Não viveria no luxo, tão-pouco caíra
no lixo. Diminuído no físico, alerta e destro no espírito.
Jorge Listopad:
Nada de Passadismos para os «Secos & Molhados», disseram-me.
Por isso hoje começo por Mário-Henrique Leiria que
morreu há uma semana. Tão presente. Escritor e poeta que baralhou as cartas de
todas as convenções, o humorista de origem melancólica, magíster da ironia mordaz e terna, ao
observar o mundo como o fruto surrealista de coincidências artísticas, realmente
muito «chateado» com a desordem da ordem.
Lisboeta, nasceu em 1923. Curriculum: Belas-Artes, não acabadas, movimento surrealista,
marinha mercante, caixeiro de praça, metalúrgico, caminheiro (estradeiro, como
diz Mário de Andrade), Europa Latina, Balcãs, Transibéria (?), Carcavelos, Carcavelos-hospital.
Autor de poesia, de centenas de textos jornalísticos,
de contos, cujo livro Contos do
Gin-Tonic em 73, no último marcelismo, foi um best-seller pela
qualidade e livre respiração.
Chegaram depois a sua casa e disseram-lhe:
- Mas você não consegue escrever coisas compridas!
Isso que faz é uma miséria.
- Coisas compridas, como?
- Bem, romances, crónicas autênticas, ensaios sólidos.
.-Não, isso não sou capaz.
- Então você não é um escritor.
- Pois não. Quem se atreveu a chamar-me tal coisa?
- Desculpe. Mas uma coisa comprida, por favor, não arranja?
- Desculpe. Mas uma coisa comprida, por favor, não arranja?
- Quando as coisas vão a ficar maiores, deito logo
fora. Compreende, não é?
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