Obra Completa
António Gedeão
Notas
Introdutórias de Natália Nunes
Capa: Raquel
Porto
Relógio D’Água,
Lisboa, Novembro de 2007
- Minha mãe, haverá mundo
para além da Trafaria?
- Não sei, meu filho. Não sei.
Tudo aquilo que sabia
já no meu sangue te dei.
- Que serras são estas, mãe,
que não nos deixam ver nada?
- São rugas que a Terra tem.
Não maces a tua mãe.
Deixa-me estar descansada.
- Ó mãe, que rio é aquele?
Onde nasce e onde morre?
- Ó filho, é Deus que o impele.
Entretém-te a olhar para ele.
É um rio. Tem água. Corre.
- Quando eu for crescido, mãe,
quero saber e entender.
- Ó filho, o supremo bem
é cada qual, com o que tem,
resignar-se e agradecer.
Deus faz tudo pelo melhor.
Não se engana nem se esquece.
De todo o mal, o maior,
seria sempre pior
se Deus assim o quisesse.
Ninguém foge ao seu destino.
Está tudo determinado.
Não penses com desatino.
Dorme, dorme, meu menino.
um soninho descansado.
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