Andava desesperado a tentar fazer um disco, mas não
queria fazer singles, discos de 45 rotações – o género de músicas que passava
na rádio. Os cantores folk, os
artistas de jazz e os músicos clássicos, faziam LPs, alguns com imensas
canções nas espiras – inventavam identidades e criavam desequilíbrios, tinham
mais impacto. Os LPs eram como a força da gravidade. Tinham capas à frente e
atrás que dava para admirar horas a fio. Comparados com eles, os de 45 rotações
eram fininhos e por acabar. Amontoavam-se e parecia que não valiam nada. De
qualquer forma eu não tinha uma única canção no meu reportório para a rádio
comercial. Canções sobre contrabandistas depravados, mães que afogavam os próprios
filhos, Cadillacs, trevas e cadáveres no fundo dos rios não eram para
radiófilos, Não havia nada de pacato nas músicas folk que eu cantava.
Não eram fáceis nem amadurecidas. Não davam calmamente à costa. Acho que se
pode dizer que não eram comerciais. Não era só isso, o meu estilo era demasiado
errático e difícil de encaixar na rádio e as canções, para mim, eram mais do
que mero entretinimento ligeiro.
Bob Dylan em Crónicas
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