quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

VIVER A VIDA EM SOLIDÃO


Enquanto atravessava a Sexta Avenida, as palavras Callas é Medeia é Callas rodopiavam de modo ritmado ao som dos calcanhares das minhas botas a bater np pavimento. Pier Pailo Pasilini estudos com cuidado as possibilidades de elenco e acabou por escolher Maria Callas, uma das vozes mais expressivas de todos os tempos, para um papel é pico com pouco diálogo e em que o canto não entrava. Medeia  não canta canções de embalar, ela assassina os próprios filhos. Callas não era uma cantora perfeita, mas a sua voz saía das entranhas do seu ser e fê-la conquistar a pulso o seu lugar no mundo. A tristeza das heroínas que encarnou não a preparou para a sua própria dor. Traída, abandonada, ficou sem amor, sem voz, sem o filho que perdera, condenada a viver a sua vida em solidão. Preferia imaginar Callas livre das pesadas vestes de Medeia, a rainha queimada, na túnica amarelo-claro sob elas. Usava pérolas. A luz inunda o seu apartamento em paris quando pega num pequeno guarda-joias de couro. O amor é a joia mais preciosa de todas, murmura, desapartando as pérolas que lhe caem da garganta, escalas cantadas em ondulações de sofrimento que diminuem depois até ao silêncio.

Patti Smith em MTrain

Legenda: Maria Callas no filme Medeia de Pier Paolo Pasolini

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