O Imenso Adeus
Raymond Chandler
Tradução: Mário
Henrique-Leiria
Capa: Cândido
Costa Pinto
Colecção Vampiro
nº 101
Livros do
Brasil, Lisboa, s/d
- Eu estive nos comandos. Eles não aceitam tipos
feitos de algodão em rama. Fui ferido e o trabalhinho que os médicos nazis me
fizeram não teve muita graça. Sinto-lhe as consequências.
- Eu sei Terry. Você, sob muitos aspectos, é um tipo
muito simpático. Eu não estou a julgá-lo. Nunca o julguei. Simplesmente você já
não existe.
Já deixou de existir há muito. Está bem vestido, todo
perfumado e tão elegante como uma prostituta de cinquenta dólares.
- Isto faz parte do disfarce - respondeu-me quase
desesperadamente.
- Mas você diverte-se, não diverte?
A boca torceu-se-lhe num sorriso amargo. Depois
encolheu os ombros
expressivamente, à latina.
- Claro que me divirto. Tudo quanto hoje existe é
teatro. Não há mais nada.
Aqui - e bateu no peito com o isqueiro - não há nada.
Eu estou pronto, Marlowe. E já o estava há muito. Bom, parece-me que não há
mais nada a dizer.
Ele levantou-se. Eu levantei-me. Ele estendeu a mão
esguia. Eu apertei-a.
- Até à vista, Sr. Maioranos. Gostei muito de o
conhecer, apesar de o nosso contacto ter sido tão breve.
- Adeus.
Ele voltou-se, atravessou o escritório e saiu. Fiquei
a ver a porta fechar-se. Ouvi-lhe os passos afastarem-se no corredor que pretendia
ser de mármore. Tornaram-se cada vez mais fracos até que deixei de os ouvir.
Mas continuei à escuta. Porquê? Seria que eu esperava
que ele parasse de repente e
voltasse para trás e falasse comigo até que eu
deixasse de me sentir como me sentia? Mas ele não voltou. Foi a última vez que
o vi.
E nunca mais vi nenhum dos outros - excepto os
polícias. A esses, ainda não se inventou um processo de lhes dizer adeus.
Sem comentários:
Enviar um comentário