Há 88 anos
nascia em Ajaccio, na Córsega, Michel Giacometti.
Um dia, conheceu
em França uma portuguesa com quem acabou por casar.
Vieram passar a
lua-de-mel a Portugal e o etnomusicólogo corso acabou, também, por se apaixonar
pela terra, pelo canto do povo.
Deixou dito que
no Alentejo existia um gosto pelo canto, único no mundo.
Esse canto, em
27 de Novembro de 2014, haveria de tornar-se Património Cultural Imaterial da
Humanidade.
Percorreu o
país-de-lés, tendo deixado a maior recolha jamais feita em Portugal sobre
música popular e tradicional.
O programa Povo
Que Canta, título retirado de uma canção anarquista espanhola - «Pueblo que
canta no puede morir» -, transmitido na televisão a preto e branco, foi
publicado em DVD pelo jornal Público.
Em Agosto de
1979, encontrou-se, em Albufeira, com Miguel Torga, encontro que o escritor
assim regista no seu Diário:
Não sei que vento o trouxe de terras estranhas. Sei
que há muito aportou aqui e que, afortunadamente, criou raízes. Como que a
dar-lhes alimento, estuda as várias manifestações da nossa cultura popular,
desde a música às danças, aos adágios, à culinária, às próprias mezinhas com
que nos curamos. Foi desses tesouros – alguns definitivamente salvos pelo seu
carinho – que, de resto, falámos largo tempo, ele a discretear e eu a sentir,
emocionado, que tinha diante de mim um livro aberto da pátria. O café era uma
Babel. Idiomas de todos os continentes cruzavam-se em todas as direcções. E, na
minha aflição nativa, nada me podia dar mais consolo do que encontrar um
paroxismo de lusitanidade naquela natureza em boa hora transplantada. Tive a
impressão súbita que o Algarve voltava a ser português.
Legenda: murais, em
Peroguarda, homenageando Michel Giacometti.
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