A desordem que se viveu, o espetáculo social e humano
absolutamente degradante a que se assistiu nos tempos imediatos à Revolução do
25 de Abril, a estupefação, a incredulidade, a impossibilidade de conviver com
toda uma imensa miséria cultural de um país com um enorme índice de
analfabetismo alimentado pelo regime salazarista e que vinha agora «ao de cima»
nas mais elementares situações do quotidiano, de compreender e aceitar a
balbúrdia instalada, a agonia provocada por um tão grande desequilíbrio, pelas
frases tão grosseiras que ouvia na rua, nos transportes públicos, nas lojas,
enfim, por toda a parte, pela dificuldade da aceitação de novas atitudes de
«liberdade», tudo isto, todos estes fenómenos sociais o deprimiram
intensamente. Não a Revolução em si, porque essa foi desejada, naturalmente,
mas o que a Revolução deixou ver e que não cabe aqui neste livro demonstrar.
Rómulo de Carvalho viveu a situação profundamente
amargurado. No seu livro Memórias, o leitor poderá observar descrições
pormenorizadas, todas documentadas, de cenas do dia a dia. Cenas e dizeres
absolutamente inacreditáveis que, sem qualquer orgulho, fazem parte de um certo
rascunho da nossa História recente. Ele reuniu muita documentação dessa época
especial, socialmente falando, que espelha, nas mais perfeitas condições, um
determinado e peculiar comportamento de toda uma sociedade. Qualquer pessoa
ficará impressionada ao ler esses relatos compilados pela mão serena de um
homem a tento e admirado com tudo o que passou nessa altura.
Em finais de 1974 elaborou o requerimento que iria
proporcionar-lhe a aposentação e em janeiro de 1975 foi confirmada essa
aposentação.
Ao fim de quarenta e dois anos de ensino presidencial,
sem nunca ter usado gravata e sem a mesma cor política desses cinzentos
governantes, Rómulo de Carvalho terminava a sua atuação como professor mas não terminava
a sua vida cheia de atividades, ligadas sempre ao ensino e à divulgação
cultural, que foram uma constante durante toda a sua vida.
Cristina Carvalho
em Rómulo de Carvalho/António Gedeão, Príncipe Perfeito
Legenda: Liceu
Pedro Nunes
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