3-3-63
Relembrando
cinema, velhos filmes e as sessões da infância no velho «Nacional» (onde nunca
entro sem que uma mão misteriosa me aperte o coração quando olho para aquelas
cadeiras pequenas e inconfortáveis das 8 primeiras filas – o nosso reino!)
recordei o 1º filme que vi ou que eu penso ser o 1º - «Os Aventureiros dos
mares do Sul» com T(yrone) Power e já não me lembro mais quem. Mas o que me
alegra nessa lembrança é o reconhecimento de que desde criança, a m/ intuição
me fazia aderir aos aspectos construtivos dos sentimentos e factos. Não me
lembro de nada do filme, a não ser que o «herói» naufragava e era atirado para
as praias de uma ilha dos mares do Sul. Lembro-me sim do seu amor com uma
nativa e do que até hoje guardo como prova desse amor: uma bela cena, na praia,
atrás dumas rochas, quando a aldeia vai surpreender o herói, ensinando a moça a
ler e a escrever nas areias da praia! Esse aspecto construtivo do amor, ficou
sedimentado em mim criança e ainda hoje, creio, que é o que me dá a medida real
dum amor, é a esse aspecto construtivo que refiro sempre qdo. tenho de
comparar, imaginar, referir. É bom reconhecer, a mais de 20 anos de distância,
a persistência das boas qualidades inatas que nem a «sordidez» e a estupidez»
depois de alguns anos de vida post-adolescente, conseguiram afastar. E que
tornaram possível o melhoramento de mim com o mesmo amor e a compreensão da
minha bela companheira e namorada K.
José Luandino
Vieira em Papéis da Prisão
Legenda: Cinema
Nacional, em Luanda. Fotografia do jornal Público.
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