quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

QUANTOS DE NÓS PODEMOS DIZER O MESMO


Foi um «homem» que fez isto. Um «homem» à procura de algo novo. Que conseguiu criar com a sua vontade. O grande gesto de amor de Elvis abanou o país e foi um dos primeiros ecos do movimento pelos direitos civis que viria a nascer. Foi o tipo de novo americano cujos «desejos» transformaram os seus objectivos em algo de que foi possível desfrutar. Era um cantor, um guitarrista que adorava a cultura musical negra, reconhecia a sua beleza artística, a sua preponderância, o seu poder, e que ansiava conhecê-lo profundamente. Serviu o seu país no exército. Fez alguns filmes maus e alguns bons, desperdiçou o seu talento e tornou a reencontrá-lo, teve um regresso em grande e, à boa maneira americana, teve uma morte precoce e estrondosa. Não foi um «ativista», não foi um John Brown, nem um Martin Luther King Jr., nem um Malcolm X. Era um artista, um imaginador de mundos, um sucesso incrível, um falhanço embaraçoso e uma fonte de ações e ideias modernas. Ideias que, em pouco tempo, alteraram a identidade e o futuro da nação. Ideias cujo tempo tinha chegado, que nos desafiaram a decidirmos se queríamos assistir a um funeral de destruição e declínio nacional ou dançar ao ritmo do nascimento de um capítulo novo da história da América.
Não sei o que ele pensava sobre a raça. Não sei se ele pensou nas implicações mais vastas dos seus atos. Sei que foi isto que ele fez; viveu a vida que se sentiu impelido a viver e revelou a verdade que estava dentro dele e as possibilidades que estavam dentro de nós. Quantos de nós podemos dizer o mesmo? Depois de rejeitado, como uma anedota nacional, acreditou no sonho do tipo de país que poderíamos ser, explosões, salvações, preces, lutas, marchas, rezando, cantando, odiando e adorando o que íamos desbravando.

Bruce Springsteen em Born to Run

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