Foi um «homem» que fez isto. Um «homem» à procura de
algo novo. Que conseguiu criar com a sua vontade. O grande gesto de amor de
Elvis abanou o país e foi um dos primeiros ecos do movimento pelos direitos
civis que viria a nascer. Foi o tipo de novo americano cujos «desejos»
transformaram os seus objectivos em algo de que foi possível desfrutar. Era um
cantor, um guitarrista que adorava a cultura musical negra, reconhecia a sua
beleza artística, a sua preponderância, o seu poder, e que ansiava conhecê-lo
profundamente. Serviu o seu país no exército. Fez alguns filmes maus e alguns
bons, desperdiçou o seu talento e tornou a reencontrá-lo, teve um regresso em
grande e, à boa maneira americana, teve uma morte precoce e estrondosa. Não foi
um «ativista», não foi um John Brown, nem um Martin Luther King Jr., nem um
Malcolm X. Era um artista, um imaginador de mundos, um sucesso incrível, um
falhanço embaraçoso e uma fonte de ações e ideias modernas. Ideias que, em
pouco tempo, alteraram a identidade e o futuro da nação. Ideias cujo tempo
tinha chegado, que nos desafiaram a decidirmos se queríamos assistir a um
funeral de destruição e declínio nacional ou dançar ao ritmo do nascimento de
um capítulo novo da história da América.
Não sei o que ele pensava sobre a raça. Não sei se ele
pensou nas implicações mais vastas dos seus atos. Sei que foi isto que ele fez;
viveu a vida que se sentiu impelido a viver e revelou a verdade que estava
dentro dele e as possibilidades que estavam dentro de nós. Quantos de nós
podemos dizer o mesmo? Depois de rejeitado, como uma anedota nacional,
acreditou no sonho do tipo de país que poderíamos ser, explosões, salvações,
preces, lutas, marchas, rezando, cantando, odiando e adorando o que íamos
desbravando.
Bruce Springsteen em Born to Run
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