Uma Admirável Droga
Luiz Pacheco
Posfácio: Isabel
Segorbe
Capa: Victor
Hugo
Ilustrações
A.S.L.
Quarteto
Editora, Coimbra, Fevereiro 2001
Se eu tive um destino singular, na modéstia que todos
temos um único, original e
nosso e apenas isso, mas repito se, em comparação com muita gente que me
rodeia, lhe posso ainda, aqui comigo e nas histórias lendárias ou veras que de
mim contam (algumas tenho ouvido, espantado sem acreditar; doutras nem já me
lembrava mas foram mesmo), esse meu destino, é singular, porque será?
Interrogo (-me) e não sei capaz, não lhe (me) sei responder. A doença em
pequeno? a devoradora leitura, alargando uma imaginação já de si exagerada,
neurótica? uma degenerescência familiar de que fiz bastante para me
salvaguardar, procurando outros rumos, novos projectos, caras felizes? um acentuado pendor para a contradição ou atenção
crítica que começa no querer ver como é, saber ouvir, ler muito e
variado, e desconfiando sempre? Porque desconfio, duvido, amontoando hipóteses,
alterando dados na aparência irrefutáveis e, em frieza quase absoluta,
distinguindo os meus sentimentos ternos pelas pessoas da análise implacável do
que elas são ou de como aas queria? e repelindo-as ou chegando-me a elas, na
convivência forçada ou fascinante que temos de aceitar com o outro?
Conheço-me? não me conheço? estou baralhado de todo?
Ou fui sempre?
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