João Bénard da
Costa, abria assim uma das suas crónicas:
Nos nossos cinemas, ou no que resta dos nossos cinemas, se me quiser
fazer entender.
Os velhos cinemas
estão quase todos liquidados, ou em vias de…
Uma sala de cinema
era um local de liturgia.
Hoje, já não se vai
ao cinema como um acto relevante do nosso quotidiano, mesmo uma festa.
Eduarda Dionísio
escreve no seu Retrato Dum Amigo EnquantoFalo:
Ir ao cinema tinha deixado de ser há muito tempo o
filme – nunca se lembrariam de ver o mesmo filme na televisão, em casa de alguém.
Ir ao cinema era a compra do bilhete, a entrada, as
conversas do foyer porque encontravam sempre gente conhecida, era o escuro da
sala e sobretudo as primeiras imagens depois da cortina abrir ou subir até
aparecerem nomes conhecidos por cima, a encarnado por exemplo, abarcando a
amplidão toda duma rua ou duma cidade e finalmente vendo-se as primeiras
pessoas, ouvindo-se as primeiras frases.
Aí ficavam no escuro muito fresco esperando o fim,
começando a construir paralelamente ao filme que viam numa grande solidão
aglomerada as primeiras teorias sobre a obra, a estrutura, o ritmo as imagens,
o som, esperando, a partir de certo momento o intervalo, voltando a entrar na
fila já no escuro, pedindo licença, e cada um tendo a certeza que aquele filme
lhe pertencia e ninguém podia entendê-lo, nem melhor, nem mais profundamente.
Não queres ir amanhã ao cinema?
Hoje, os jovens
vão ao cinema com todos os intuitos, menos o de ver cinema.
Compram baldes
de pipocas e, durante a exibição do filme, dirigem, uns aos outros, em alta
gritaria, graçolas e ordinarices, gargalham estupidamente.
Há uns anos, um
pacato cidadão, mandou calar uns jovens, recebeu como resposta:
Queres que eu
esteja calado? Oh man! queres ver um filme nas calmas, aluga um no clube de
video e fica em casa, não venhas ao cinema, isto é para curtir, meu!.
O cinema dado e
arrumado como produto descartavel.
Nos nossos cinemas, ou no que resta dos nossos cinemas, se me quiser
fazer entender.
Legenda: um dos
foyers do Cinema Império. Fotografia tirada do blogue Restos de Colecção.
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