Anos 60.
Os tempos não
eram fáceis.
No jantar do Dia
de Natal e do Dia de Ano Novo, comia-se perú assado no forno.
Uns dias antes
do Natal, ia com o meu pai ao Lavradio buscar dois perús, que tinham vindo do
Alentejo, criados a bolota e tudo o que há (ou havia) nos montados alentejanos.
Na Estação Sul e
Sueste apanhávamos o barco para o Barreiro, ainda a vapor.
Depois a
camioneta do José Cândido Belo para o Lavradio, onde vivia um tio que
trabalhava na CUF.
Mais de meio-dia
de viagens, acreditem.
Os perús vinham,
vivos, em dois cestos de verga.
O do Natal era
logo embebedado com bagaço, depois temperado pela minha avó materna.
O do Ano Novo
ficava dentro do tanque de lavar a roupa, ia comendo uma mistura de pedacinhos
de couve e milho, e a aguardar a bebedeira antes de entrar no forno.
Com tudo isto
gastava-se dinheiro que ultrapassava o mais que parco orçamento caseiro.
Dinheiro que iria
fazer falta nos restantes dias, mas, festa é festa, e o Natal e o Ano Novo eram
sagrados.
Para os males
monetários, é que havia Casas de Penhores.
Nunca comi perú
assado, como aquele que, depois de maneira única temperado pela minha avó, era
assado, muito lentamente, no forno.
Arroz de miúdos,
batatas fritas às rodelas, salada de alface.
Tangerinas, mas
tangerinas mesmo.
O arroz doce
apresentava-se em pires, com a primeira letra do nome dos convivas, desenhada
com canela.
Legenda: imagem
do Arquivo Shorpy
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