segunda-feira, 15 de abril de 2019

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O José Fonseca e Costa, na Biografia Literária do Alexandre O’ Neill, escrita por Maria Antónia Oliveira, revelava que o poeta comia em tascas e bebia em tabernas, e uma das tascas era a Estrela da Sé que é cenário das Recordações da Casa Amarela.

João César assinala que a cena 06 de Recordações da Casa Amarela se passa, de dia, no restaurante Estrela da Sé.

Quando vi o filme, fiquei com a ideia que a cena interior se passa no restaurante Faz Frio ao Príncipe Real.

Mantenho a dúvida.

Eduardo Guerra Carneiro pensou o mesmo, mas engana-se quando diz que Duarte Almeida, nome que João Bénard da Costa utilizava enquanto actor, come um frango assado em vez da garoupa com todos.

É este o pedaço do texto do Eduardo que vem em Outras Fitas:

«… nesse inesquecível Recordações da casa Amarela, do João César Monteiro, atacando um frango assado, de forma erótica, num reservado do Restaurante Faz Frio.

A Estrela da Sé fica no nº 4 do Largo de Santo António e abriu portas no distante ano de 1814.

Hoje faz parte das Lojas Com História, seja lá o que isso for.


Ao longo dos últimos tempos, tem conhecido várias facetas, acompanhando o surto turístico que tem vindo a invadir e a descaracterizar Lisboa.

Perdeu aquele jeito de tasco da antiga Lisboa, com comida a saber mesmo a comida e fica-se agora com os tiques e sinais da Lisboa turística.

Estas fotografias não são recentes, mas já são de tempos nova vaga.

O meu pai tinha uma certa ternura por esta casa.

Como nasceu na Rua da Padaria, que fica um pouco abaixo da Estrela da Sé, conhecia-a de longa data.

Fomos lá uma vez jantar, mas nunca mais repetimos o cenário.

Foi um jantar para o cinzento, amargas recordações da infância do meu pai que, mesmo fazendo todos os esforços, não deixaram de vir à baila e acabaram  por ensombrar o repasto e a conversa.

O meu pai comeu pescadinhas de rabo na boca com arroz de grelos e eu fiquei-me por umas iscas à portuguesa.

Nem a comida, nem as duas garrafas de Periquita, fizeram esquecer o que para trás ficou na infância do meu pai.

José Cardoso Pires, na Balada da Praia dos Cães tem esta passagem:

«Seriam umas onze da noite, onze cucos disparados um a um por cima dos telhados da Sé, quando Elias se sentou à mesa da sala do lagarto com vista para o Tejo.
Antes disso porém comeu o seu besugo grelhado na sala luarenta do Estrela do Limoeiro com vista para o balcão e porta da calçada. A essa hora de desiludidos, Elias só teve por companhia duas velhas de guardanapo à coleira, que batiam castanholas com as dentaduras à mesa do canto, e três canários de gaiola suspensos no tecto de tabuinhas. Ao alto do aparador havia o cartaz do galo de Barcelos a anunciar Portugal.»

Quando li o livro, fiquei com a ideia que Cardoso Pires remetia para a Estrela da Sé. 

Andei às voltas para localizar a Estrela do Limoeiro, perguntas várias a conhecedores da zona, mas nada consegui apurar.

1 comentário:

Seve disse...

Este blogue fascina-me:

"...com comida a saber mesmo a comida".