Herzog
Saul Bellow
Tradução: Luísa
Ducla Soares
Capa: Luís Filipe de
Abreu
Colrcção Latitude nº
62
Posso não estar bom da
cabeça, mas tudo me parece claro, pensou Moisés Herzog.
Algumas pessoas
julgavam-no louco, e durante um certo tempo ele próprio duvidou da sua
integridade. Mas agora, embora o seu comportamento fosse ainda estranho,
sentia-se confiante, alegre, clarividente e forte. Um feitiço envolvera-o, e
começara a escrever cartas a toda a gente. Estava tão excitado com estas cartas
que desde o fim de Junho andava dum lado para o outro com uma mala cheia de
papéis. Levara essa mala de Nova Iorque para Martha’s Vineyard, mas regressou
de Vineyard imediatamente; dois dias mais tarde voou para Chicago, e de Chicago
dirigiu-se para uma aldeia na zona oriental de Massachusetts. Escondido no
campo, escreveu incessantemente, fanaticamente, para os jornais, aos homens
públicos, a amigos e familiares e até aos mortos, aos seus próprios mortos
obscuros, e finalmente aos mortos famosos.
2 comentários:
Ando para ler este livro para aí há dez/quinze anos.
Para quem já o leu: valerá a pena?
Caro Seve,
Li o livro em 1967, tinha 22 anos.
Um largo e variável grupo de amigos, de que fiz parte, juntava-se em mesas de café. Trocávamos livros, discutíamos livros, trocávamos ideias, discutíamos ideias. O tempo corria lento e cinzento e este livro de Saul Bellow foi aconselhado numa dessas conversas à roda das mesas. Gostei muito do livro, outros amigos também, outros nem tanto. Agora, não consigo ter uma ideia de como será ler este livro pela primeira vez. Os tempos mudaram tanto. No findar do livro, depois de todas as suas dramáticas vivências, Herzog volta à sua casa no meio da floresta e exige a si próprio, largando mágoas, dúvidas, melancolias. Mas acredita que volte a sentir uma qualquer esperança.
Enviar um comentário