A minha voz quando estiver tão longe,
que apenas eruditos ma percebam,
no que, do tempo, eu não levei comigo,
já não dirá desilusões ou sonhos,
quantas esperanças dei não crendo nelas,
para que as vissem quem não via o mundo,
ou visse o mundo alguém, mesmo sem elas
– será como um silêncio do passado,
onde o futuro se advinha extremo,
e não sabemos qual, se será vosso,
se outro será, de que nasceu connosco
o erro de o julgar, como se fora
alheia a liberdade ao próprio tempo...
E só no tempo em vão me perderei.
Será mistério, escuridão, cansaço,
memória ténue de ansioso abraço,
em volta de um saber de coisa alguma…
Mas não será retorno. O que ficou
jamais dirá que
tornarei a ser:
pois se me enchi de instantes e de acasos,
não deixei senão quanto não morre,
ainda que a Vida se recuse a tanto.
12/6/44
Jorge de Sena de
Tempo de Coroa da Terra em 40 Anos de Servidão
Legenda: Jorge
de Sena
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