No dia 30 de Novembro de 1995, morria Fernando Assis
Pacheco. Tinha 58 anos.
Saía da Livrareia Bucholz, quando um ataque cardíaco o
vitimou.
Jornalista, poeta, romancista, um tipo de que se gostava à primeira
vista.
Conheci-o nos idos de 1967, na redacção do Diário de Lisboa.
Mas o convívio aconteceu quando, juntamente com outros jornalistas
do Diário de Lisboa, Raul Rego e Vitor Direito à cabeça, o Assis
Pacheco, mais a sua HCESAR, se passou para o Republica.
Naquela manhã, fiquei parvo de todo a olhar os títulos dos jornais, a
tentar perceber se aquilo era mesmo possível: o Assis Pacheco já não estar por
aqui.
Tinha um fino humor, uma ironia cortante, uma cultura sem limites.
As suas entrevistas são de mão cheia e algumas delas encontram-se
reunidas em Retratos Falados, que as Edições ASA publicaram em
Maio de 2001. A Assírio Alvim tem vindo a publicar toda a sua obra.
Na sua HCESAR, escrevia com o indicador direito e
gargalhava para a redacção, contando a última pilhéria.
Gozador da vida, perdia-se por vinhos e petiscos.
Deixou escrito que os melhores tordos que comeu, foram preparados pelo
José Cardoso Pires que tinha um apartamento,
rasgado para o Atlântico, na Costa da Caparica.
No dia em que escorregou para dentro de si mesmo, Fernando Assis
Pacheco estivera a folhear livros nos escaparates da Bucholz.
Quem dedicou toda uma vida à cultura, só poderia partir assim.
José Cardoso Pires:
Aqui para nós palpita-me
que não vou tardar muito a ir ter contigo, é cá uma fé, até já sei que te vou
encontrar “solitário diante de uma folha branca” como o Maiakowski. Mas sabes?,
enquanto por cá ando fazes-me falta. Bastante, Assis. Mesmo bastante, acredita.
Último Tesão
Alombo contigo há uma
porção de anos
e vou-te dizer és um chato
não tens ponta de paciência
para a vida nem para ti próprio
e vou-te dizer és um chato
não tens ponta de paciência
para a vida nem para ti próprio
já te ouvi discursos a
mandar vir
já te carreguei às costas
bêbedo como um Baco de aldeia
mijando as ceroulas
és um adolescente retardado
faltou-te sempre a quarta do bom senso
já te carreguei às costas
bêbedo como um Baco de aldeia
mijando as ceroulas
és um adolescente retardado
faltou-te sempre a quarta do bom senso
vez por outra um livrinho
de versos vez por outra nada
qualquer um do teu tempo
está bastante melhor do que tu
deputado administrador de empresa
ministro da maioria
puta (alguns chegaram a isso)
de versos vez por outra nada
qualquer um do teu tempo
está bastante melhor do que tu
deputado administrador de empresa
ministro da maioria
puta (alguns chegaram a isso)
só tu meu inocente brincas
com a neta
açulas o cão pedindo
à família que te ature
o tipo um dia destes morde-te
que é para aprenderes
açulas o cão pedindo
à família que te ature
o tipo um dia destes morde-te
que é para aprenderes
mas aqui entre amigos
vou-te dizer também
uma coisa importante não cedas
à tentação de mudar
fica nesta pele que é tua
vou-te dizer também
uma coisa importante não cedas
à tentação de mudar
fica nesta pele que é tua
como é que tu escrevias
merdalhem-se uns aos outros
merdalhem-se uns aos outros
o país mete dó
guarda o último tesão
para mandares
meia dúzia de canalhas à tabua
para mandares
meia dúzia de canalhas à tabua
Lisboa
5/6/9-VII-95
5/6/9-VII-95
1 comentário:
Bom dia:- Tive o gosto de o conhecer pessoalmente. Era uma pessoa muito bem disposta
Fernando Assis Pacheco, deixou saudades
.
Feliz fim de semana
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