Fogo Grande
Cesare Pavese/ Bianca Garufi
Tradução: Jaime Brasil
Capa: Octávio Clérigo
Colecção O Livro de Bolso nº 13
Portugália Editora, Lisboa s/d
Sílvia não voltou em
nenhum daqueles dias. Não descobri com quem estava. Não era ela quem
desaparecera; não mudara em nada a sua maneira de viver; eram meus conhecidos
as palavras que dizia, a casa, os quartos, o seu despertar, as ruas; quem se
tinha perdido era eu e já não via à minha volta nada conhecido. Estava como
quando esperamos, a uma esquina, uma pessoa que se demora, e reparamos,
estupefactos, nos transeuntes, nas manchas das paredes, nos estabelecimentos,
nunca vistos antes.
Ao ver outras mulheres,
pensava: «Quantas Sílvias! Qualquer mulher é uma Sílvia. É possível?» Conhecera
no passado outras Sílvias. A minha vida era uma encruzilhada onde as Sílvias se
tinham demorado um instante. Todas eram semelhantes e encontraram-se comigo por
acaso. Desta vez sabia, no entanto, isto: quanto sofri por Sílvia não era
casual. Também devia reconhecer não me ser possível viver com ela. Aqueles seus
olhos, o cabelo, a voz, não eram para mim. Ao nascer, formaram-se e cresceram
para ser vistos, ouvidos, beijados por outro, por um homem que não se parecesse
comigo, tão diferente como um animal de um tronco. Que lhe havia de fazer?
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