Autobiografia
José Luís Peixoto
Capa: Rui Rodrigues
Quetzal Editores, Lisboa, Julho de 2019
Se alguém lhe tivesse contado que o filho se perdera em Lisboa, a mãe
demoraria a acreditar. Por um lado, José estava sozinho na cidade havia dez
anos, tempo de conhecer todas as vielas; por outro lado, não era capaz de
imaginar que a escrita de um livro fosse razão para problemas de tal ordem.
Para sua própria expiação, o filho alimentava essa influência cega, os livros.Antes tivesse apanhado
meningite como o rapaz da vizinha, perdeu alguma audição, mas tornou-se
mecânico gabado por todos. Em julhos da puberdade, enquanto os outros rapazes
acertavam em pardais com os tiros de pressão de ar, saudável treino de
pontaria, José passava horas oculto e silenciosos, lia deitado na cama ou
escrevia doidices, inclinado sobre um caderno, No princípio a mãe rezou, pediu
a Santa Cecília, protectora dos poetas, que lhe poupasse o filho, que o libertasse
dessas ideias. Não alcançando resposta, conformou-se e baixou os olhos perante
Deus aceitando os seus mistérios. A partir daí, passou a rezar pelo filho a
Santo Aleixo, protector dos mendigos.
1 comentário:
Rezando se alcança a Paz em Deus.
.
Votos de uma semana feliz.
Cumprimentos poéticos.
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