segunda-feira, 11 de novembro de 2019

OLHAR AS CAPAS



Autobiografia

José Luís Peixoto
Capa: Rui Rodrigues
Quetzal Editores, Lisboa, Julho de 2019

Se alguém lhe tivesse contado que o filho se perdera em Lisboa, a mãe demoraria a acreditar. Por um lado, José estava sozinho na cidade havia dez anos, tempo de conhecer todas as vielas; por outro lado, não era capaz de imaginar que a escrita de um livro fosse razão para problemas de tal ordem. Para sua própria expiação, o filho alimentava essa influência cega, os livros.Antes tivesse apanhado meningite como o rapaz da vizinha, perdeu alguma audição, mas tornou-se mecânico gabado por todos. Em julhos da puberdade, enquanto os outros rapazes acertavam em pardais com os tiros de pressão de ar, saudável treino de pontaria, José passava horas oculto e silenciosos, lia deitado na cama ou escrevia doidices, inclinado sobre um caderno, No princípio a mãe rezou, pediu a Santa Cecília, protectora dos poetas, que lhe poupasse o filho, que o libertasse dessas ideias. Não alcançando resposta, conformou-se e baixou os olhos perante Deus aceitando os seus mistérios. A partir daí, passou a rezar pelo filho a Santo Aleixo, protector dos mendigos.

1 comentário:

" R y k @ r d o " disse...

Rezando se alcança a Paz em Deus.
.
Votos de uma semana feliz.
Cumprimentos poéticos.