Aos poucos vamos
deixando para trás o culto dos mortos.
Por este dia de
finados, os caminhos para os cemitérios já não se encontram tão pejados de
carros e pessoas como há uns anos atrás.
Os cemitérios já são
pouco visitados.
Lembro que a Rua
Morais Soares, caminho para o Cemitério do Alto de São João, há uns anos atrás,
era um mar de gente com vendedoras de flores ao longo dos passeios.
José Gomes Ferreira,
no dia 2 de Novembro de 1968, escrevia nos seus Dias Comuns
«Hoje, dia de esquecer os mortos… De calcá-los bem na cova – com missas,
crepes, luto, flores para coroar caveiras…»
A minha avó marcava o dia de finados acendendo, numa
grande cómoda, de madeira muito antiga, lamparinas que se reduziam a um pires
com azeite e um paviozinho, colocadas junto aos santos de devoção e às
fotografias dos seus mortos.
O meu avó
exasperava-se com esta devoção. Dizia-me que o que devemos é respeitar e amar
as pessoas enquanto andam ao nosso lado, o resto é hipocrisia e os fantasmas
devemos deixá-los em seu sítio.
Muitos anos depois, hei-de ler em Dóris Graça Dias:
«Apaixonamo-nos
pelas pessoas, quando as escutamos. Amamo-las. E só deixamos de as desejar
quando deixamos de as ouvir.»
Sem comentários:
Enviar um comentário