Naquele tempo apenas havia Bolo-Rei.
Depois inventaram o Bolo Raínha, o Bolo Rei escangalhado, não sabe mais o quê.
Já antes, a ASAE mandou proibir o brinde e fava no Bolo-Rei.
Dizem que o melhor Bolo-Rei é o Confeitaria
Nacional, casa fundada em 1829, ali à Praça da Figueira. O segredo da
feitura do bolo nunca saiu portas fora. Uma tarde, por um findar de ano, esteve
hora e meia, na fila, à espera de comprar o bolo. Não por ele mas por um amigo,
chegado de Montalegre, que daquele bolo ouvira falar e nunca tinha comido.
Para ele não há problema. Gosta tanto que os come de qualquer lugar: do
Continente, do Minipreço até da padaria aqui da rua.
Gosta de Bolo-Rei, mas se o querem ver mesmo feliz é
quando o encontra fora da época. Que querem? Sempre foi assim e está velho para
mudar. Também se perde por broas castelar…
Mas pode dizer que sim, que é bom o Bolo-Rei da Confeitaria
Nacional, só que é uma opinião em que não podem ter qualquer tipo de
confiança. Está à vista o porquê.
Por ele, em certo Natal uma amiga esteve uma hora na fila
para comprar o Bolo-Rei da "Garret", ali para os estoris, Bolo-Rei
"chique, chiquérrimo", como a amiga dizia. Sim, um bom Bolo-Rei.
Tanta generosidade merecia uma pequenina mentira e disse-lhe:
"O melhor Bolo-Rei que comi até hoje!"
O sorriso valeu a mentira, o entusiasmo também:
“Vês! Eu não te dizia!..
espero que me calhe aquela fava
que é costume meter no bolo-rei:
quer dizer que o comi, que o partilhei
no natal com quem mais o partilhava
- de um poema de Vasco da Graça Moura
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