sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

CONVERSANDO


Teve dezenas de gatos, um de cada vez, sabe o espaço que ocupam.

Cresceu rodeado por gatos, apanhava-os na rua e levava-os para casa, mas, hoje, questiona-se sobre ter gatos em casa: pela higiene, pelos cheiros, pelas alergias que provocam. A irmã tem três gatos, que se passeiam por cima das mesas, por cima das tartes de limão. Quando olhou a cena, as tartes de limão da irmã deixaram de o entusiasmar.

Uma querida amiga que vive no Porto, dorme com os gatos, passeia a sua solidão pelos corredores da casa. Quando lhe telefona, diz que os filhos continuam longe, os gatos não compensam essa falta, mas ajudam-na a calar a dor até não sentir nada.

Aprende-se com os gatos o sabor da solidão?

Não o saberá.

Lembra-se de um livro de Adrien Goetz:

«Ela apelava à atenção, ao silêncio, à minúcia, à preguiça, ao escrúpulo, devolvia-me a vontade de agradar, e de dar vida às coisas, só para mim, neste atelier que me servia de abrigo. Tratava-me por tu. Quando lhe dizia: "E, quando voltar para França, como conseguirei viver sem poder acariciar assim a tua nuca", ela respondia-me maliciosamente: "Podes comprar um gato".»


Legenda: fotografia de Luís Eme

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