Teve
dezenas de gatos, um de cada vez, sabe o espaço que ocupam.
Cresceu
rodeado por gatos, apanhava-os na rua e levava-os para casa, mas, hoje,
questiona-se sobre ter gatos em casa: pela higiene, pelos cheiros, pelas alergias
que provocam. A irmã tem três gatos, que se passeiam por cima das mesas, por
cima das tartes de limão. Quando olhou a cena, as tartes de limão da irmã deixaram
de o entusiasmar.
Uma
querida amiga que vive no Porto, dorme com os gatos, passeia a sua solidão
pelos corredores da casa. Quando lhe telefona, diz que os filhos continuam
longe, os gatos não compensam essa falta, mas ajudam-na a calar a dor até não
sentir nada.
Aprende-se
com os gatos o sabor da solidão?
Não
o saberá.
Lembra-se
de um livro de Adrien Goetz:
«Ela apelava à atenção, ao silêncio, à minúcia, à preguiça, ao escrúpulo, devolvia-me a vontade de agradar, e de dar vida às coisas, só para mim, neste atelier que me servia de abrigo. Tratava-me por tu. Quando lhe dizia: "E, quando voltar para França, como conseguirei viver sem poder acariciar assim a tua nuca", ela respondia-me maliciosamente: "Podes comprar um gato".»
Legenda:
fotografia de Luís Eme
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