Os Homens Alegres
Robert Louis
Stevenson
Tradução: Helena
Barbas
Colecção: Mares
nº 59
Expo 98, Lisboa
Agosto de 1997
Estava uma manhã maravilhosa de finais de Julho quando
pela última vez me pus para o caminho de Aros. Na noite anterior um barco
tinha-me largado em terra de Grisapol. Tomei o pequeno-almoço que a modesta
estalagem me permitiu e, deixando ali toda a bagagem até que a pudesse vir
recolher por mar, ataquei pelo promontório de coração alegre.
Estava longe de ser um nativo destas partes, originário, como era, do tronco puro das terras baixas da Escócia. Mas um tio meu, Gordon Darnaway, depois de uma juventude pobre e rude, e de alguns anos no mar, tinha casado com uma jovem rapariga das ilhas. Mary Maclean, assim se chamava ela, a última representante da sua família. E quando ela morreu a dar à luz uma filha, Aros, a quinta cercada pelo mar, tinha ficado na posse dele. Não lhe trouxe nada alem de meios de subsistência, como eu bem sabia, mas era um homem a quem a má fortuna perseguira. Embaraçado como estava com uma criança pequena, receava voltar a arriscar-se nas aventuras da vida, e conservava-se em Aros, a roer as unhas contra o destino. Os anos passaram-lhe sobre a cabeça naquela solidão, e não lhe trouxeram nem auxílio, nem contentamento. Entretanto a nossa família ia morrendo na planície. Há pouca sorte para qualquer um daquela raça, e talvez o meu pai tivesse sido o mais afortunado de todos porque, não só foi um dos últimos a morrer, mas deixou um filho ao seu nome e um pouco de dinheiro para o sustentar. Eu era estudante na Universidade de Edimburgo, vivendo suficientemente bem às minhas custas, mas sem amigos e parentes. Quando algumas notícias acerca da minha pessoa fizeram caminho até ao rio Gordon, no Ross Grisapol, ele – que era um homem que considerava o sangue mais espesso que a água – escreveu-me no dia em que soube da minha existência, e instou-me a que considerasse Aros como o meu lar. Foi assim que acabei a passar as minhas férias naquela parte do país, tão distante de todo o convívio e conforto entre o bacalhau e as galinhas d’água escocesas. E era para isso que agora, depois de ter acabado as aulas, regressava com um coração tão leve nesse dia de Julho.

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