José Sócrates.
Nunca tive simpatia quer pelo político, quer pela pessoa.
Foi agora constituído arguido e goza da presunção de inocência.
Mas há que ter em conta que não foi julgado nem acusado de qualquer
crime.
A justiça correrá os seus trâmites.
Seria bom que fosse célere e não comece, como seu velho hábito, a
encanar a perna à rã.
Desconhecedor de todo o processo, não deixo de considerar um exagero a
prisão preventiva de José Sócrates.
Por coisas, aparentemente, muito mais graves, Ricardo Salgado, mercê de
uma caução, está em liberdade.
Sem dúvida, dois pesos e duas medidas.
Estou completamente acordo com Elina Fraga, Bastonária da Ordem dos Advogados.
Exigindo que a Procuradoria-Geral da República apure de onde vem tanta
fuga de informação, não deixa de reconhecer o óbvio:
Se é para não existir segredo de justiça, acabe-se com
ele. De resto, eu até sou defensora disso mesmo. Que se tornem públicos os
processos, para que se saiba quais são os indícios recolhidos pela investigação
criminal, mas também qual é a defesa que os arguidos apresentam. Que uns
estejam sujeitos ao segredo de justiça e outros (neste caso a investigação
criminal) deixem escapar tudo o que consta no processo é que é impróprio num
Estado de direito.
Isso ajuda a que se faça um julgamento popular antes
do tempo?
É evidente. Todos nós temos consciência de que o tempo
da justiça e o tempo da comunicação social são tempos diferentes. E o que vemos
são pessoas a serem julgadas de forma sumária na praça pública. Independentemente
de quem seja o cidadão, todos têm a mesma presunção de inocência. A violação do
segredo de justiça por parte da investigação criminal dá nisto: hoje todos
sabem os indícios que foram sendo recolhidos e ninguém sabe quais foram os
esclarecimentos que a defesa prestou. Nós já tivemos no mundo do futebol muitos
treinadores de bancadas, espero que não passemos agora todos a ser juízes de
bancadas, acusando e condenando pessoas que, algumas delas, até podem ser
inocentes. Um cidadão cujo nome é posto na comunicação social com indícios
sérios da prática de um crime pode ser absolvido daqui a cinco, seis, sete
anos. E entretanto viu a honra, viu a sua consideração, viu a sua imagem
pública completamente denegrida e está irremediavelmente impossibilitado de a
voltar a recuperar.
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