E olhei-te por mais tempo. Ainda hei-de olhar-te,
quando, acabados teus lugares, partires,
deixando no ar o espaço de fingires
a graça juvenil que eu devorei,
ano após ano, e em meu olhar tomei
de todos que te tinham sem te ver.
Ainda hei-de olhar-te, se, quando morrer,
puder voltar aqui e procurar-te
no espaço que deixaste. Mas não te amo,
não te amei nunca, e nunca te amarei.
Não se ama nunca a quem olhamos tanto.
Nem se deseja. Quanto por ti clamo,
neste silêncio em que de ti fiquei,
não é senão o libertar do encanto
que foste ao longe, à luz do mar aceso.
E à luz que te recorta é que estou preso.
Jorge de Sena
deixando no ar o espaço de fingires
a graça juvenil que eu devorei,
ano após ano, e em meu olhar tomei
de todos que te tinham sem te ver.
Ainda hei-de olhar-te, se, quando morrer,
puder voltar aqui e procurar-te
no espaço que deixaste. Mas não te amo,
não te amei nunca, e nunca te amarei.
Não se ama nunca a quem olhamos tanto.
Nem se deseja. Quanto por ti clamo,
neste silêncio em que de ti fiquei,
não é senão o libertar do encanto
que foste ao longe, à luz do mar aceso.
E à luz que te recorta é que estou preso.
Jorge de Sena
Legenda: pintura de Henri Matisse
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