Jardim dos Anjos, Lisboa.
Há uns anos retiraram todos os bancos do jardim.
Há uns anos retiraram todos os bancos do jardim.
Tinham-se transformado em entreposto de compra e venda de droga, poiso
de prostitutas.
Os negócios continuam, mas agora há, que a pé firme, aguardar a chegada
de clientes.
Sentados, olham o edifício da Sopa dos Pobres.
- Tem um cigarrinho?
- Hum?...
- Hum?...
- Um cigarrinho…
(Longa pausa)
- Já abriu!
- Hum?
- Já abriu!
- Tal é a comida?
- Não é má, mas ao fim de quatro dias cansa… Tem
cartão? É preciso ter cartão. O senhor tem que ir à Junta de Freguesia do seu
bairro e pedir um cartão… igual a este.
- Quem não tem cartão?
- Se o refeitório não estiver chão talvez o porteiro o
deixe entrar, caso contrário é melhor arranjar um ali à porta, com meia nota é
de caras.
- Ai é?
(Pausa)
- Vou andando. Não gosto de chegar no fim, fica-se à
espera de mesa e a comida arrefece num instante.
SINOPSE DE
RECORDAÇÕES DA CASA AMARELA
Lisboa, 1989: Um pobre-diabo de meia-idade vive no quarto de uma pensão barata e familiar, na zona velha e ribeirinha da cidade. Atormentado pela doença, e por vicissitudes de ordem vária, o idiota, que se alimenta de Schubert e, quiçá, de uma vaga cinéfila como forma de resistência à miséria, é posto no olho da rua, após tentativa fruste contra o pudor da filha da dona da pensão.
Sozinho, e privado de quaisquer recursos, vê-se confrontado com a dureza do espaço urbano, e é internado num hospício, de onde sairá por ponderada decisão de homem livre, para cumprir uma missão “rica e estranha” que lhe é indicada por um velho amigo, doente mental como ele: “Vai, e dá-lhes trabalho!”. E aqui para nós, a rir a rir, algum tem dado…
Lisboa, 1989: Um pobre-diabo de meia-idade vive no quarto de uma pensão barata e familiar, na zona velha e ribeirinha da cidade. Atormentado pela doença, e por vicissitudes de ordem vária, o idiota, que se alimenta de Schubert e, quiçá, de uma vaga cinéfila como forma de resistência à miséria, é posto no olho da rua, após tentativa fruste contra o pudor da filha da dona da pensão.
Sozinho, e privado de quaisquer recursos, vê-se confrontado com a dureza do espaço urbano, e é internado num hospício, de onde sairá por ponderada decisão de homem livre, para cumprir uma missão “rica e estranha” que lhe é indicada por um velho amigo, doente mental como ele: “Vai, e dá-lhes trabalho!”. E aqui para nós, a rir a rir, algum tem dado…
Em João César Monteiro, Cinemateca Portuguesa.
Sem comentários:
Enviar um comentário