Descobrimos uma coisa curiosa acerca da América. Era
civilizada nas bordas: Nova Iorque, Chicago, LA, Washington. Mas afastavas-te
uns oitenta quilómetros de qualquer uma destas cidades e entravas noutro mundo:
No Nebraska, habituámo-nos a levar com «Olá, meninas» e mimos do género.
Ignorávamos e ponto final. Ao mesmo tempo, os tipos que diziam isso deviam
sentir-se ameaçados, talvez por as suas mulheres olharem para nós com um ar
cativado. Éramos diferentes dos pacóvios emborca-cervejas que elas tinham de
aturar todo o santo dia. A postura deles era claramente ofensiva, mas o que lhe
estava subjacente era uma necessidade de defesa. Entrávamos num sítio só para
tomar um café, comer uns ovos com fiambre ou umas panquecas e já íamos preparados
para uma boa dose de bocas foleiras. Éramos apenas músicos mas,
independentemente da nossa vontade, acabávamos por nos cruzar com dilemas e
choques sociais muito interessantes. E muita insegurança. Supostamente, os
americanos eram assertivos e seguros de si. Balelas: só fachada. Os homens, em
particular, não percebiam bem o que se estava a passar. E aconteceu tudo muito
depressa. Não me surpreende que alguns tipos se sentissem ultrapassados.
Keith Richards em Life.
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