Alexandre O’ Neill, Uma Biografia Literária
Maria Antónia Oliveira
Capa: António Néu
Publicações Dom Quixote, Lisboa, Janeiro de 2007
A Lisboa de Alexandre O’Neill é um exercício irónico
sobre o típico alfacinha, jogo de um fascinado pela banalidade e pelo
lugar-comum.
As escarretas que saem das tabernas
não voltam a entrar.
Ou ficam nas bermas
ou em quem vai a passar.
Que olhar era este, que ele lançava sobre os bas-fonds
da sociedade portuguesa, sobre o povo seboso e acanalhado ao qual não pertencia
nem por nascimento, nem por educação? Sobranceiro, desdenhosos, paternalista?
Não me parece. O’Neill tinha um gosto genuíno pelas tascas onde se comia o
«cozido porco» (numa tasca imunda na Buraca para onde arrastava os amigos) e
pelo povo que as frequentava, com quem convivia, sentado à mesma mesa; mas
conservou sempre certo modo aristocrático e distante que se lhe notava: era,
íntima e caracterialmente, um chunga-chique. Estes são dois extremos que se
tocavam nele – e é um oximoro, figura de estilo que parece ter determinado a
sua forma mental, a que mais lhe ocorria quando olhava para o mundo: definir as
coisas por oposição, por contraste, pela imagem díspar do surrealismo – aquelas
«semelhanças misteriosas» que, dizia Pascoaes, são privilegiadamente captadas
pela alma popular.
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