Carta
de Jorge de Sena, datada de 16 de Novembro de 1969, para Eugénio de Andrade:
Viste o artigo do
Cesariny, contra o meu prefácio do Breton, fingindo até que a tradução, que é
do Tamen, é minha? Aquela víbora tem sido sempre uma das minhas sombras negras –
sem que eu lhe tivesse feito jamais o mal que outros lhe fizeram. Cada vez mais
acho que ele é apenas uma piada, com talento às vezes, piada promovida pela
necessidade que todas as gerações sentem de ter um Botto de Estação do Rossio.
Nada é mais triste que um raivoso que teve a sua hora. Curioso é como, na sua
maioria, com honrosas excepções, a gente surrealista portuguesa se distinguiu
sempre por uma falta de dignidade e de carácter a toda a prova: e tudo fica na
triste diferença entre St. Germain des Prés e a Avenida Almirante Reis. Claro
que, neste caso, o que ele queria era botar sentença numa edição que sonharia
lhe fosse confiada. E falar de tradução um sujeito que pôs «surrealismo
criador» nas suas falhas de francês e português ao traduzir Rimbaud… Que
miséria – a dele, e a dos litras portugas que o papisam. O que ele quer é
conversa – mas está bem livre. Não falemos em coisas tristes.
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