Se Numa Noite de
Inverno um Viajante
Italo Calvino
Tradução: José Colaço Barreiros
Colecção Mil Folhas nº 11
Público, Lisboa, Julho de 2002
O romance começa
numa estação ferroviária, ronca uma locomotiva, um arfar de êmbolo tapa a
abertura do capítulo, uma nuvem de fumo esconde parte do primeiro parágrafo.
Pelo meio do cheiro a estação passa uma lufada de cheiro a bufete de estação.
Está alguém a olhar pelos vidros embaciados, abre a porta envidraçada do bar,
lá dentro também está tudo enevoado, como que visto por olhos de míope, ou
então por olhos irritados com ciscos de carvão. São as páginas do livro que
estão embaciadas como as janelas de um velho comboio, é nas frases que pousa a
nuvem de fumo. É uma noite de chuva: o homem entra no bar; desabotoa o
sobretudo húmido; envolve-o uma nuvem de vapor; um silvo põe-se a correr pelos
carris brilhantes da chuva a perder de vista.
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